segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Quem ri por último ri melhor ...

Gostamos de convidar os nossos amigos para vir a nossa casa e, muitas vezes, quando há um evento televisivo que sabemos vai prender a maior parte das pessoas ao pequeno ecrã por um período de tempo relativamente longo, organizamos uma noitada, normalmente com comida e bebida partilhadas, e assim assistimos juntos ao programa. O núcleo duro é sempre o mesmo, o resto do pessoal vai variando, dependendo do evento em causa.  E, assim, tem sido nos últimos tempos. Sempre com um desfecho estranhamente comum ...

Nos idos de Novembro, no dia das eleições, tínhamos a casa cheia de gente, para (pensávamos nós) festejar a vitória da primeira mulher a ser eleita para a Casa Branca. Do alto da nossa grande bolha, não vimos o que se passava na "América profunda" e só quando a noite já ía a mais de meio é que percebemos que não íamos acabar o dia a festejar. E aos poucos foi-se instalando o espanto, o silêncio, depois a revolta. Houve lamentos e lágrimas. Naquela noite, as garrafas de champagne não saíram do frigorífico. Uma reviravolta que nos apanhou de surpresa!

Há umas semanas atrás, toca a reunir as tropas para ver o maior espectáculo da televisão americana - a final do Superbowl, este ano entre os New England Patriots e os Atlanta Falcons.  Eu estava ligeiramente a torcer pelos Patriots, apenas porque têm um quarterback muito giro (Tom Brady, marido da Giselle Bundchen), isto até ao momento em que uma amiga disse "pena ser apoiante do Trump". WHAT? O Tom Brady? Como? Desde quando? E lá começou a esmorecer ligeiramente o  meu apoio aos Patriots, que ao intervalo, estavam a perder por 28-3, num massacre que ninguém previu. O jogo estava de tal maneira desequilibrado que houve pessoas que ao intervalo desistiriam de ver por acharem que o jogo estava mais do que resolvido. E não é que os Patriots conseguiram recuperar e vieram a ganhar o jogo, por 34-28, no prolongamento, numa reviravolta nunca antes vista? 

No Domingo passado, nova reunião para ver os Óscares, desta vez com o nosso grupo das movie nights. E não é que terminamos a noite a assistir à mais impressionante reviravolta, para não lhe chamar maior barracada, de todos os tempos? Confesso que quando vi entrar em palco o Warren Beatty e a Faye Dunaway, senti logo um ligeiro desconforto. A velhice é uma coisa tramada e assim que eles começaram a falar pensei logo que o momento - entrega do Óscar para o melhor filme do ano - merecia apresentadores mais ágeis, mais em controlo da situação. 


Os indícios de que algo estava a acontecer começaram cedo, com o Warren Beatty a demorar mais do que o normal para anunciar o vencedor, e a olhar ora para o papel que tinha na mão, ora para dentro do envelope a ver se não havia lá mais nada dentro. E eis que, claramente sem saber o que fazer, resolve passar a batata quente à Faye Dunaway, que em ânsias para acabar com o impasse, e após lançar uma brevíssima olhadela ao papel, se precipita e anuncia o vencedor, sem perceber que tinha o papel errado na mão. 

E depois, já com a equipa do La La Land em palco, a festejar e a discursar, começamos a ver pessoal da organização por trás deles, a andar de um lado para o outro que nem baratas tontas, de auriculares no ouvido. E, para espanto de todos, eis que é o próprio produtor de La La Land que se encontrava no centro do palco em frente ao microfone, com o Óscar na mão, que anuncia que afinal o vencedor de melhor filme era o Moonlight. E tem que o repetir, pois todos achavam que ele estava a gozar. This is not a joke, disse ele mais do que uma vez, chamando a equipa de Moonlight ao palco. Toda uma cena mirabolante. E lamentável, principalmente para a equipa de Moonlight, que viu o seu momento de ouro claramente ofuscado por esta mega trapalhada. Assistir a tudo isto em directo foi épico! 


Têm sido reviravoltas atrás de reviravoltas, e no final da noite já havia quem dissesse que da próxima vez que nós organizarmos um destes eventos em nossa casa, têm que tomar antes qualquer coisinha, que não há coração que aguente tanta surpresa!

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Férias repartidas: Portugal

Agora sim, aqui fica um pequeno relato da minha semaninha de férias em Portugal, em pleno mês de Janeiro. Fui sozinha, o que (aqui entre nós) faz toda a diferença em termos de liberdade de movimentos. Sem ter que me preocupar em conciliar desejos, gostos e agendas de mais ninguém, consegui maximizar o tempo e fazer (quase) tudo o que planeei! E soube muito bem! 


Lisboa

O ponto de chegada e o de partida é sempre Lisboa, claro, o que me permite passar sempre 3 ou 4 dias na capital, onde revejo família e amigos, visito os meus sítios do costume e dou uma vista de olhos pelas novidades. Desta vez fiquei em Telheiras, em casa de uma das minhas cunhadas, mesmo ao pé de uma estação do Metro, o que calhou muito bem pois estava sem carro. Assim que cheguei fui matar saudades da minha filhota mais velha, com quem me cruzei um dia em Lisboa, já que no dia seguinte ela rumava a Boston para começar o segundo semestre.
 não a via desde finais de Novembro, quando ela foi a Urbana passar o Thanksgiving. E tive um cheirinho do que é a sua vida quando está em Lisboa, com o namorado. Estas mini férias não podiam ter começado melhor! No dia seguinte de manhã, levei-a ao aeroporto e depois rumei à estação do Oriente onde apanhei o comboio até Coimbra.

Quando regressei a Lisboa, já no final da semana
, visitei o meu antigo escritório (sempre uma incrível viagem no tempo), passeei pelo Chiado (lindo) e pelo renovadíssimo Saldanha e dei um saltinho às Amoreiras, onde já não ia há muito, muito tempo. E conheci o Time Out Market, no Mercado da Ribeira, um food court gigante, com uma oferta gastronómica muito interessante, num ambiente muito giro e descontraído (e barulhento). Foi aí que almocei e jantei com amigos e pus a conversa em dia com algumas das pessoas com quem tenho mais prazer em estar e conversar. Infelizmente o tempo não dá para tudo e desta vez não consegui passear à beira rio, nem conhecer o MAAT. Fica para a próxima!


Lisbon by night - Rossio

Metro - uma galeria de arte aberta a todos


Once upon a time ...






Coimbra



Chegada a Coimbra, há que fazer um shift de 180º. Ali tudo gira em torno da família e dos amigos-família. Passei muito tempo com os meus pais, muito carentes de mimo e atenção da filha mais velha, e com os meus sobrinhos. Passeei pela baixa da cidade num dia cinzento e chuvoso, que me deixou com um misto de tristeza e nostalgia. Que saudade dos tempos em que a cidade se vivia na baixa. Tantas horas que lá passei! E estive com os meus amigos de sempre, numa experiência que é sempre meia bipolar - ora "parece que nada mudou", ora pergunto "mas que raio se passa aqui?". A distância não mata, mas amolece e é preciso remar com força contra a maré, que há coisas boas de mais para se perderem. Festejámos os meus 51 anos, sem a pompa e circunstância que os 50 mereceram, mas ainda assim com muito mimo. Fomos ao Itália, no Parque da Cidade, o que já é uma tradição. 




Ao olhar para esta última foto, apercebi-me que não podia acabar este relato sem um tributo, mais do que merecido, às pastelarias Portuguesas, verdadeiramente imbatíveis!  Em Lisboa, estive na Padaria Portuguesa e na Benard. Infelizmente, desta vez não consegui ir comer um croissant ao Careca! Em Coimbra fui à Vénus, ponto de passagem obrigatório sempre que por lá passo (e onde tirei esta foto). O que eu não dava para ter uma destas, qualquer uma, em Urbana!

E depois regressei a casa. Calhou ser no fim de semana em que esteve em vigor a Travel Ban do Trump, pelo que no terminal internacional de Chicago havia manifestações de apoio aos emigrantes e refugiados, e advogados a oferecer os seus serviços gratuitos aos que tivessem problemas em entrar no país por causa da ordem executiva, numa mobilização reconfortante, que talvez seja forte o suficiente para resistir à merda que por aqui vai e à que ainda está para vir. Fingers crossed!


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Férias repartidas

É um facto conhecido que nos Estados Unidos os trabalhadores beneficiam de direitos laborais muito inferiores aos da maior parte dos trabalhadores que vivem em países civilizados. Então em comparação com o que existe nos países do norte da Europa, nem se fala. Deixa muito americano de boca aberta ouvir falar da duração da licença de maternidade/paternidade ou do número de dias de férias pagas a que têm direito por ano. 

Claro que, como em relação a quase tudo, também a este respeito a realidade nunca se apresenta a preto e branco. É que aqui não há uma lei laboral aplicável a todos os trabalhadores. Há leis federais  e há leis estaduais, diferentes de Estado para Estado, aplicáveis aos funcionários do Estado, mas não obrigatoriamente aos funcionários do sector privado. Por exemplo, em Illinois não existe nenhuma lei que imponha a uma empresa privada a obrigação de "dar" férias ou licenças pagas aos seus trabalhadores. E depois há os regulamentos das empresas privadas. Onde raio pára o princípio da igualdade? Pois, que não por aqui!

Vou por isso limitar-me a falar do que se passa comigo, funcionária de uma Universidade pública do Estado do Illinois (o que faz de mim uma espécie de funcionária pública!). Ao contrário do que se passa na Europa, a Universidade, apesar de ser uma instituição do Estado, tem liberdade para estabelecer, e estabelece, os benefícios laborais dos seus próprios trabalhadores. Felizmente para mim, e para todos os mais de 4,000 funcionários não docentes da Universidade, até que esta é bem generosa (em termos americanos, claro, que não estamos na Escandinávia!). 

Por ano, tenho direito a 26 dias úteis de férias, pagos como qualquer dia de trabalho. Nada mau! Na verdade, são 24 dias de férias e 2 dias chamados de floating holidays, que podemos gozar quando queremos. Como não se observam os feriados religiosos, porque são muitas as religiões e seria difícil agradar a gregos e a troianos (com excepção do Natal que já ganhou um estatuto especial), cada trabalhador pode usar estes 2 dias para não trabalhar em dias que têm para si um significado especial. No meu caso, agnóstica militante, gozo-os como 2 dias adicionais de férias (como aliás a maior parte das pessoas, desconfio...). Para além das férias, tenho direito a 25 dias pagos para gozar em caso de doença (minha ou de alguém da família),  acesso a reforma e a um generoso seguro de saúde. 

Mas voltando às férias, se é verdade que posso gozar até 26 dias úteis por ano, o que se traduz em um pouco mais de 5 semanas, a verdade é que não posso tirar mais do que 2 semanas seguidas, não que haja qualquer lei ou regulamento nesse sentido, mas sim pela prática generalizada que existe. E só tiro 2 semanas seguidas se planear uma ida ao estrangeiro, caso contrário a "regra" é tirar até 1 semana de cada vez. A ideia é limitar os efeitos negativos das férias (!) no meu trabalho (muito fica por fazer) no volume de trabalho dos colegas que ficam (que necessariamente aumenta) e na produtividade da organização em geral (que diminui). Claro que há vários estudos/teorias/argumentos que contrariam esta abordagem dos períodos de descanso dos trabalhadores, mas claramente que não vingam por aqui!


Aqui, se tens a sorte de trabalhar numa organização que te proporciona um número razoável de dias de férias pagos por ano, o que muito gente não tem, há que os gozar de forma repartida. Em vez de umas férias grandes, temos muitas férias pequeninas. O que também tem as suas vantagens (há que ver sempre o copo meio cheio). Parece que estamos sempre de férias. Estou a gozar, não parece nada!


Nota: Comecei a escrever este post a pensar que ia falar da semaninha de férias que tive em Janeiro, em Portugal, mas a coisa descambou. Fica para a próxima ...

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Danger, Stay Away

Há já alguns meses atrás fui almoçar com uma colega de trabalho, a Katya, uma russa a viver nos Estados Unidos desde os 15 anos. E ela falou da sua melhor amiga, também russa, e de como ela era uma ferverosa apoiante do Putin, coisa que a minha amiga Katya tinha muita dificuldade em digerir e de como elas tinham decidido, pura e simplesmente, não falar sobre política, a bem da sua amizade. 

Mal eu sabia na altura que, uns meses mais tarde, isto seria algo com que me iria confrontar com alguma frequência. Apesar de (felizmente) nenhum dos meus amigos, na acepção mais pura do termo, ser apoiante de Trump, é inevitável cruzar-me com algumas pessoas que o são, sejam colegas de trabalho, pais de amigos da Matilde ou simplesmente pessoas com quem me cruzo nas mais variadas situações do dia-a-dia. 


E a verdade é que, neste momento, saber que alguém é apoiante do Trump, determina de forma decisiva a forma como olho para elas e a minha disponibilidade para as deixar entrar no meu espaço. Por várias vezes me tenho debatido com esta questão: será que consigo ser amiga de alguém que partilha de valores e defende ideias tão radicalmente diferentes das minhas em tantos aspectos essenciais? Será que faz sentido compartimentalizar as pessoas e valorizar apenas alguns aspectos da sua personalidade ou do seu ideário, aqueles que nos unem, ignorando tudo o que nos separa? Naturalmente que não estou a pensar em divergências de opinião sobre este ou aquele assunto, que existem sempre. Falo de divergências mais abrangentes sobre valores fundamentais e estruturantes da pessoa e da sociedade. Não sei.


No dia seguinte a chegar de Portugal, estava a conversar com 2 colegas de trabalho, que me perguntavam se tinha tido algum problema no aeroporto, em passar a imigração, por causa do travel ban então em vigor. E daí prosseguimos para uma discussão mais alargada sobre terrorismo, imigração, segurança nacional, e por aí fora. E a certa altura uma delas murmurou "but we need to start somewhere", após o que a conversa foi interrompida pelo toque do telefone de uma delas e cada uma foi à sua vida. Não voltámos a falar sobre o assunto, mas não fiquei com grandes dúvidas sobre o alcance do que ela disse. E aquela frase vem-me à cabeça de cada vez que me cruzo com ela. É como se aquela pessoa, com quem até simpatizo, pelo seu sentido de humor, pela sua gargalhada contagiante que se ouve à distância, passasse a andar com um letreiro na testa a dizer Danger, Stay away! Tempos difíceis.



Resultado de imagem para sinais de danger