quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Burocracias à portuguesa

Este país pode ter muitos defeitos, que os tem, mas regra geral as coisas funcionam bem, quer no sector privado, quer no público. Não há grandes burocracias, as pessoas e os serviços são eficientes. Nem tudo é perfeito, claro (por exemplo o sector bancário deixa muito a desejar, comparado com o Europeu) mas não temos grandes razões de queixa. Até que precisámos de fazer uma procuração para mandar para Portugal...

Ora, nos Estados Unidos não há notários, pelo que tivemos que recorrer aos Serviços Consulares Portugueses, e descobrimos que há um Cônsul Honorário em Chicago. Contactei-o por email, e depois de vários emails trocados, ele marcou um dia e hora para irmos ao seu escritório fazer a procuração. "Meti" o dia de férias (sempre achei muito esquisito dizer-se "meter férias") e rumámos a Chicago. Chegámos cedo, pelo que ainda deu para dar uma volta e almoçar, e há hora marcada lá estávamos no escritório do Cônsul. Ou melhor, lá estávamos na recepção do prédio onde o Cônsul tem o seu escritório, uma daquelas torres gigantes na downtown. E a recepção foi a única coisa que vimos, mesmo. O nosso nome não estava na portaria (o que nos devia logo ter posto de sobreaviso ...) pelo que não nos deixaram subir. A recepcionista telefonou "lá para cima" e parece que a nossa marcação não estava na agenda do Cônsul. Esperámos 1 hora na portaria, sempre a tentar contactá-lo por telefone (e a deixar mensagens progressivamente menos simpáticas na caixa de mensagens), mas o dito nem sequer se dignou a falar connosco, pelo que voltámos para casa sem a procuração e com uma carga de nervos em cima. Perdi um dia de férias, fizemos 400 quilómetros de carro, mas o pior de tudo é esta sensação de irresponsabilidade e falta de respeito que nos deixa mesmo frustrados. 

Vínhamos na viagem de regresso a casa quando recebemos um telefonema do Cônsul. Estava claramente pouco satisfeito com as mensagens que lhe deixámos no telefone e ainda tentou justificar-se, mas lá acabou por pedir desculpa, apesar de ainda ter tentado culpar a secretária (sem razão, diga-se, que a marcação foi feita directamente por ele). No final do telefonema disponibilizou-se para fazer nova marcação, mas a minha resposta foi imediata: Não, obrigada!

domingo, 26 de novembro de 2017

O melhor do meu Thanksgiving




Tê-los em casa. Aos três. Ao mesmo tempo. É sempre uma visita breve, mas tão boa! Nestes momentos, o tempo passa ainda mais rápido do que o habitual e entre dar-lhes o beijinho de boas-vindas e o de despedida tentamos encaixar tanta coisa e fica sempre tanta coisa por fazer. Acima de tudo quero que se sintam bem em casa, que queiram sempre voltar, e que voltem para as suas vidas com o coração cheio, como o meu fica nestas alturas. Venha o Natal!

P.S. Devia ter avisado que este era um post lamechas!

sábado, 25 de novembro de 2017

A Portuguese-Australian-Italo-Swedish-Spanish-American Thanksgiving!

Cuidado, o título pode induzir-vos em erro. Tivemos um Thanksgiving muito multicultural, sem dúvida, em termos de nacionalidades representadas à mesa, mas muito americano em (quase) tudo o resto, e nem poderia ter sido de outra maneira ou não fosse esta uma das mais importantes festas americanas.  E como se costuma dizer, "em Roma, sê Romano". Houve, claro, perú assado recheado, doce de cranberry, bata doce, feijão verde, e tarte de abóbora. Mas também houve tortilla espanhola, arroz à portuguesa e bolo de chocolate da Mafalda! 

Este ano, o jantar foi em nossa casa, pelo que ficou a nosso cargo assar o perú. Uma grande responsabilidade! Mas descobri alguns truques, o mais importante deles de que se pode assar o perú dentro de um saco (próprio para o efeito) que, não só acelera a assadura (demorou cerca de 2,5 horas), mas também evita que o perú fique muito seco. E ficou muito bom. Infelizmente comeu-se quase todo... Partir o perú, principalmente um com quase 7 Kg, é sempre um desafio, felizmente há o google ... e o Stephen. Estava a Cecília e a Mafalda, de tesoura em riste, a googlar "how to carve a turkey", quando chegaram os nossos amigos Stephen & Catherine, mesmo a tempo de o único americano presente exibir os seus dotes e a sua experiência de muitos anos! 

Como disse uma amiga, apesar de todos os ups and downs (e ultimamente os downs têm sido mais do que muitos) há que agradecer a este país a oportunidade e a naturalidade de nos sentarmos à mesa com pessoas oriundas de tantos países diferentes para celebrar o Thanksgiving. E se há coisa que aprecio, e agradeço, é esta vivência multicultural, de que usufruo todos os diase que enriquece mais do que muitas aulas de história. 





sábado, 18 de novembro de 2017

É de pequeno que se torce o pepino

Aqui nos Estados Unidos é muito frequente os miúdos começarem a trabalhar muito cedo. Normalmente arranjam o primeiro trabalho quando ainda andam na escola secundária, seja durante o ano lectivo, depois das aulas, seja nas férias, principalmente nas do Verão. Uns por necessidade, para ajudar as famílias, mas muitos outros apenas porque querem começar a ganhar algum dinheiro para as suas coisas. É uma questão cultural, sem dúvida, em que se valoriza muito a produtividade e a iniciativa privada, mas é também uma questão de natureza económica. Há trabalhos que em Portugal são considerados uma profissão, e que são exercidos por adultos a tempo inteiro, que por aqui são maioritariamente feitos por jovens, que os fazem em regime de part time, em simultâneo com os estudos, desde os seus 16 anos até acabarem a Universidade ou até arranjarem um emprego "a sério". O melhor exemplo é o de empregado de café/bar/restaurante, onde é raro encontrar empregados mais velhos que daquilo fizeram a sua profissão, mas há muitos outros. A oferta é enorme e muito diversificada.

A Mafalda trabalhou numa das bibliotecas da Universidade durante os 3 anos da licenciatura que fez cá, onde em claro contraste com o que acontece em Portugal, o trabalho é assegurado maioritariamente por estudantes. Trabalhava entre 10 e 12 horas por semana, e ganhava entre 400 e 500 dólares por mês. Foi óptimo, fez-lhe muito bem ter essa responsabilidade, um horário de trabalho e um supervisor a quem prestava contas. E, no caso dela, teve ainda a vantagem de a obrigar a levantar-se da secretária e a largar os livros e o computador por umas horitas!


O Miguel começou este ano a trabalhar numa "convenient store" da Universidade, uma lojinha no campus que vende snacks, bebidas, doces, jornais e coisas do género. Tal como a Mafalda, trabalha entre 10 e 12 horas por semana, e ganha cerca de 500 dólares por mês. Faz de tudo um pouco - trabalha na caixa, repõe stock nas prateleiras, limpa a loja, e o que mais houver para fazer. Foi uma decisão dele (ao contrário da Mafalda que teve que ser empurrada), e que lhe está a sair do pêlo já que em alguns dias da semana entra às 7:30 da manhã o que o obriga a levantar muito cedo, mas, pelo menos para já, não o vejo com  intenção de desistir. 

E agora chegou a vez da Matilde! A mãe de uma amiga dela é diretora de um espaço infantil em Urbana, que é um misto de museu da criança e espaço de diversões - SPARK Museum + Play Café. Assim que fez 14 anos (idade mínima para trabalhar) que espera uma vaga de monitora, o que finalmente aconteceu.
Está toda contente, porque conhece bem o espaço e tem várias amigas que trabalham lá e, claro, porque vai ganhar dinheiro! Já fez o estágio, já foi ao seu primeiro staff meeting, e já teve que preencher e assinar papéis para o IRS. Está a sentir-se muito crescida!

A regra é sempre a de que o trabalho não é a prioridade deles - a escola é o seu full-time job e só lhes está disponível se e enquanto não prejudicar o estudo e os trabalhos de casa. E o que tenho verificado é que esta ocupação extra lhes faz bem e não prejudica. Por um lado, obriga-os a ser mais eficientes e mais organizados para conseguir conciliar tudo o que têm para fazer. E por outra lado, dá-lhes a conhecer uma nova realidade, bastante diferente dos espaços a que estão habituados, bastante mais hierarquizado e regrado, onde não ditam as regras e onde normalmente não são o centro das atenções. Até agora uma experiência positiva, sem dúvida.

sábado, 11 de novembro de 2017

Cozinha

Renovar a cozinha foi o meu projecto deste Verão. Demorou muito mais do que inicialmente previsto (como sempre). Uma chatice (comecei por escrever "um inferno"; depois mudei para "um pesadelo". Mas não é verdade. Foi apenas uma chatice. Não quero ser melodramática, nem quero desrespeitar quem sofre verdadeiros infernos e pesadelos). Foi uma chatice, que nos obrigou a alterar as rotinas e que me obrigou a mim, pessoa ligeiramente obsessiva, a viver sem que tudo estivesse imaculadamente no seu preciso lugar. Um desafio!

Valeram-nos os amigos, mais precisamente os nossos amigos (e vizinhos) Sara e Victor, que nos deixaram as chaves da sua casa e um livre trânsito para usarmos a sua cozinha enquanto estavam de férias em Barcelona. E quando voltaram e verificaram que ainda tínhamos 2 semanas de obras pela frente, fizeram dos jantares a 8 a sua (nossa) rotina. Valeram-nos os amigos que são família. 



Antes:




Depois:









segunda-feira, 6 de novembro de 2017

#fall

Repete-se todos os anos, eu sei. Mas fico sempre maravilhada com as cores do Outono aqui no Midwest! Esta foto foi tirada ontem, no jardim da nossa casa. O dia esteve de chuva, bom para estar dentro de casa, mas não resisti e tive que ir tirar mais umas fotos outonais. Parece ser o trabalho de um artista, mas é "apenas" a Natureza em todo o seu esplendor! 



sábado, 4 de novembro de 2017

Caem que nem tordos

Kevin Spacey, o mais recente actor a cair em desgraça pela denúncia de persistentes e continuados assédios sexuais, incluindo a menores, que terão ocorrido nas últimas décadas e nos mais variados contextos. E com ele corre o risco de cair uma das séries que vejo e mais gosto actualmente, House of Cards, cuja 6ª série (em gravação) está suspensa após estas denúncias terem vindo ao de cima. Nada contra, mas o que me aborrece é a mesquinhez desta gente, que tenho a certeza estava mais do que a par do que se passava e nada fez durante anos, assobiando para o lado, e só quando a coisa se torna pública resolve agir, quão virgens ofendidas. E muitos estarão com o coração nas mãos, a pensar que poderão ser os próximos alvos desta crescente segurança das vítimas em denunciar publicamente (muito graças às redes sociais) estes comportamentos predadores e abusadores, que magoam, intimidam, diminuem e condicionam as vítimas.

No outro dia, alguém perguntava no Facebook, "Há alguém nos States que não tenha cometido assédio sexual?" O que é uma generalização estúpida, claro, mas que ao mesmo tempo mostra um desconhecimento (negação?) de uma realidade que existe em todas as sociedades, mas que permanece na sombra, escondida. Se não se fala é porque não existe. Nos States há muitos malucos, desequilibrados, violentos e perigosos, mas se há coisa que também existe é uma permanente discussão, pública e aberta, sobre estas coisas. Seja o abuso sexual, racismo ou a xenofobia. Tudo se discute até à exaustão. 


Os States são uma sociedade extremamente racista, segregada, não há dúvidas, mas Portugal e a Europa em geral, também são. Mas não se fala sobre isso, pelos menos da maneira e com a intensidade que se discute aqui, com excepção daqueles momentos em que um incidente específico, geralmente pela usa gravidade, chega a público. Fala-se durante uns dias, para logo a seguir se voltar a ignorar o assunto. E discutir o assunto, ainda que não seja suficiente, põe-nos alerta e muito mais atentos. Atentos para o que se passa à nossa volta. Atentos ao léxico que usamos, e às mensagens subliminares que estão por todo o lado, que não matam, mas moem.