Há já alguns meses atrás fui almoçar com uma colega de trabalho, a Katya, uma russa a viver nos Estados Unidos desde os 15 anos. E ela falou da sua melhor amiga, também russa, e de como ela era uma ferverosa apoiante do Putin, coisa que a minha amiga Katya tinha muita dificuldade em digerir e de como elas tinham decidido, pura e simplesmente, não falar sobre política, a bem da sua amizade.
Mal eu sabia na altura que, uns meses mais tarde, isto seria algo com que me iria confrontar com alguma frequência. Apesar de (felizmente) nenhum dos meus amigos, na acepção mais pura do termo, ser apoiante de Trump, é inevitável cruzar-me com algumas pessoas que o são, sejam colegas de trabalho, pais de amigos da Matilde ou simplesmente pessoas com quem me cruzo nas mais variadas situações do dia-a-dia.
E a verdade é que, neste momento, saber que alguém é apoiante do Trump, determina de forma decisiva a forma como olho para elas e a minha disponibilidade para as deixar entrar no meu espaço. Por várias vezes me tenho debatido com esta questão: será que consigo ser amiga de alguém que partilha de valores e defende ideias tão radicalmente diferentes das minhas em tantos aspectos essenciais? Será que faz sentido compartimentalizar as pessoas e valorizar apenas alguns aspectos da sua personalidade ou do seu ideário, aqueles que nos unem, ignorando tudo o que nos separa? Naturalmente que não estou a pensar em divergências de opinião sobre este ou aquele assunto, que existem sempre. Falo de divergências mais abrangentes sobre valores fundamentais e estruturantes da pessoa e da sociedade. Não sei.
No dia seguinte a chegar de Portugal, estava a conversar com 2 colegas de trabalho, que me perguntavam se tinha tido algum problema no aeroporto, em passar a imigração, por causa do travel ban então em vigor. E daí prosseguimos para uma discussão mais alargada sobre terrorismo, imigração, segurança nacional, e por aí fora. E a certa altura uma delas murmurou "but we need to start somewhere", após o que a conversa foi interrompida pelo toque do telefone de uma delas e cada uma foi à sua vida. Não voltámos a falar sobre o assunto, mas não fiquei com grandes dúvidas sobre o alcance do que ela disse. E aquela frase vem-me à cabeça de cada vez que me cruzo com ela. É como se aquela pessoa, com quem até simpatizo, pelo seu sentido de humor, pela sua gargalhada contagiante que se ouve à distância, passasse a andar com um letreiro na testa a dizer Danger, Stay away! Tempos difíceis.
Mal eu sabia na altura que, uns meses mais tarde, isto seria algo com que me iria confrontar com alguma frequência. Apesar de (felizmente) nenhum dos meus amigos, na acepção mais pura do termo, ser apoiante de Trump, é inevitável cruzar-me com algumas pessoas que o são, sejam colegas de trabalho, pais de amigos da Matilde ou simplesmente pessoas com quem me cruzo nas mais variadas situações do dia-a-dia.
E a verdade é que, neste momento, saber que alguém é apoiante do Trump, determina de forma decisiva a forma como olho para elas e a minha disponibilidade para as deixar entrar no meu espaço. Por várias vezes me tenho debatido com esta questão: será que consigo ser amiga de alguém que partilha de valores e defende ideias tão radicalmente diferentes das minhas em tantos aspectos essenciais? Será que faz sentido compartimentalizar as pessoas e valorizar apenas alguns aspectos da sua personalidade ou do seu ideário, aqueles que nos unem, ignorando tudo o que nos separa? Naturalmente que não estou a pensar em divergências de opinião sobre este ou aquele assunto, que existem sempre. Falo de divergências mais abrangentes sobre valores fundamentais e estruturantes da pessoa e da sociedade. Não sei.
No dia seguinte a chegar de Portugal, estava a conversar com 2 colegas de trabalho, que me perguntavam se tinha tido algum problema no aeroporto, em passar a imigração, por causa do travel ban então em vigor. E daí prosseguimos para uma discussão mais alargada sobre terrorismo, imigração, segurança nacional, e por aí fora. E a certa altura uma delas murmurou "but we need to start somewhere", após o que a conversa foi interrompida pelo toque do telefone de uma delas e cada uma foi à sua vida. Não voltámos a falar sobre o assunto, mas não fiquei com grandes dúvidas sobre o alcance do que ela disse. E aquela frase vem-me à cabeça de cada vez que me cruzo com ela. É como se aquela pessoa, com quem até simpatizo, pelo seu sentido de humor, pela sua gargalhada contagiante que se ouve à distância, passasse a andar com um letreiro na testa a dizer Danger, Stay away! Tempos difíceis.
Lembra Brecht:
ResponderEliminarPrimeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
É isso que assusta nesta figura sinistra que é agora Presidente dos EUA.
Boa semana