segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Ter mundo

Li esta expressão, este fim de semana, na crónica do Expresso do Daniel Oliveira. Falava ele de um juíz e dizia: "Talvez tenha a vantagem de só ter chegado a juiz aos quarenta anos, depois de passar pela docência e pela advocacia e tendo formação em direito mas também em filosofia. Ter mundo, coisa que falta a tantos magistrados, faz toda a diferença."

Tendo sido advogada durante 18 anos (nos quais estou generosamente a incluir os anos em que fui advogada estagiária), num escritório pequeno e generalista de Lisboa, em que as idas ao tribunal eram "o pão nosso de cada dia" (não tanto do "meu" dia, confesso, mas dos "nossos" dias), não podia estar mais de acordo.

Os tribunais julgam pessoas, tomam decisões que afectam as suas vidas, os seus bens, as suas relações pessoais ou profissionais. Por muito inteligente, bem formado e informado que seja, se um juiz não tem mundo, muito dificilmente consegue ler nas entrelinhas, perceber a "big picture", ver para além do óbvio ou do encenado (e há tanta encenação em tribunal). 

Naturalmente que ter experiência de vida não é tudo, longe disso. Cruzei-me com muitos juízes experientes, mas estúpidos ou ignorantes, o que era verdadeiramente desesperante, mas confesso que sempre que entrava numa sala de audiência e via um jovem a envergar a Beca, que parecia acabadinho de sair do CEJ, de tão verdinho que era, me preocupava seriamente com o desfecho do caso, pois que o conhecimento técnico, ainda que essencial, não é tudo. Nem por sombras. Que o ser humano é muito complexo, demasiado complexo.





1 comentário:

  1. Se viesses a Macau e visses um carradão de garotos imberbes como juízes, ainda por cima convencidos que são um poço de virtudes e sapiência, acho que caías para o lado.

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