segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Este post não é sobre Sócrates

Muito se tem escrito sobre um artigo do João Miguel Tavares que saiu no Público (27/11/2914), em que basicamente este defendeu que tem o direito de presumir que Sócrates é culpado, com base no que leu, nos indícios, na sua experiência e na sua memória. E que tem o direito de o escrever.

Eu não iria tão longe, mas num ponto importante concordo com ele. Uma coisa são as instituições judiciais e outra é o espaço mediático. Os jornais não são os tribunais e os jornalistas não são juízes. E, portanto, as regras que se aplicam a uns e os princípios pelos quais se regem, não são (não podem ser e não devem ser) os mesmos. 

Mal estaríamos se os jornalistas, comentadores e fazedores de opinião tivessem que esperar pela "verdade" judicial para poder informar ou falar sobre determinado caso ou suspeito. Bem podíamos esperar sentados. E mal estaríamos se a investigação jornalística tivesse que passar pelo mesmo crivo da judicial. E com isto não estou a defender que na comunicação social e no espaço público em geral vale tudo. Estou apenas a dizer que os timings, as fontes, o tipo de provas e a ponderação dos indícios de uma investigação jornalística ou de uma coluna/texto de opinião, são necessariamente diferentes das exigências a que têm que obedecer os agentes judiciais.

Sempre que rebenta um escândalo, há uma enorme tendência para diabolizar os jornalistas e a comunicação social. E, pior ainda, para "meter tudo no mesmo saco". Há jornalismo sensacionalista, é verdade, que se instala à porta do tribunal ou do estabelecimento prisional e, à falta de notícias (a maior parte do tempo não acontece nada), vão discorrendo   banalidades, se não mesmo disparates e mostrando as mesmas imagens até à exaustão. 

Mas há muito mais. Na verdade, nos dias que correm, entre os meios tradicionais de comunicação, os blogues e as redes sociais, a quantidade e diversidade de informação e opinião é brutal. E é assim que deve ser. Se alguns se ficam pela manchete do Correio da Manhã ou pelos soundbytes da SIC ou da TVi, paciência. Cada um é livre de consumir a informação que quiser.  Mas não concordo com análises redutoras do que é a comunicação social e não concordo com a visão paternalista de quem acha que o leitor/ouvinte/telespectador não sabe separar o trigo do joio e filtrar a (des)informação com que é bombardeado.

Posto isto, recomendo a quem ainda não o fez, que veja o último Governo Sombra, inteiramente dedicado ao caso Sócrates. Uma prova de que boa informação pode vir nos mais variados formatos! 

1 comentário: