terça-feira, 11 de novembro de 2014

Crescente desilusão

Os nossos amigos catalães são fervorosos independentistas. Falam da Catalunha com orgulho e de Madrid com ressentimento e revolta. Falam catalão, têm bandeiras da Catalunha em casa e defendem a causa com paixão. No Domingo, como não puderam votar, juntaram-se com um grupo de estudantes da Catalunha, que conhecem bem e com quem estão frequentemente, e recriaram o seu próprio acto eleitoral. Fizeram uma urna e boletins de voto, numa recriação (quase) perfeita dos originais, e todos simbolicamente castaram o seu voto. Não sei ainda o resultado desta "eleição", mas aposto que o Sim arrasou!

Por isso, segui o referendo de Domingo com mais atenção do que se calhar seguiria se não os conhecesse e foi com uma pontinha de inveja que acompanhei a forma apaixonada e empenhada com que muitos catalães (mais de 2 milhões) apoiaram a sua causa. Prezo muito o acto de votar. Votei sempre que pude. Acho que só assim honramos este enorme privilégio que é viver em Democracia. Em miúda ia com os meus pais votar a S. Martinho do Bispo. Era um dia de festa! Os últimos anos foram uma tristeza. Acho que a última vez que votei com (algum) entusiasmo foi nas Presidenciais de 2006 em que votei no Manuel Alegre. Nas últimas legislativas votei em branco, por total incapacidade de votar em quem quer que seja que se apresentou a votos. Há pessoas/partidos em que não voto por princípio, fora isso tenho alguma latitude, mas há limites! Apesar disso, não concordo minimamente com aqueles que optam por não votar como protesto pelo actual estado das coisas (sorry C.). Para mim, há algo de profundamente errado e contraditório nisso. Infelizmente, parece ser um movimento em crescendo.

Lembro-me que quando foi o referendo sobre o aborto, tinha ido passar o fim de semana a Coimbra (só com os miúdos, que o Rui não estava em Portugal). Voltámos para Lisboa no Domingo, (achava eu que) com tempo mais do que suficiente para ir votar. Mas nesse dia, estava um trânsito diabólico e tínhamos dado boleia a um amigo, que tinha ido de propósito a Coimbra votar. Antes de ir para o Restelo ainda o fomos levar a casa e quando dou por ela, estava no meio de Lisboa e eram quase 7 horas. Devo ter violado umas quantas regras de trânsito, voei até à Ajuda, parei em frente à escola Marquês de Pombal, liguei os 4 piscas e desatei a correr até à sala onde era suposto votar. Cheguei em cima da hora, fui a última a votar na minha mesa de voto, mas votei!

Tento passar este interesse aos meus filhos. Com a Mafalda sei que a causa está ganha. Desde sempre que se interessa por estas coisas. Lembro-me que ainda adolescente seguia as campanhas eleitorais e as eleições com um interesse e conhecimento, muito superior ao da maioria dos eleitores. Votou pela primeira vez aos 18 anos. Em Barack Obama, na Embaixada Americana em Lisboa e vibrou com a sua vitória, apesar de uns meses antes ser uma acérrima apoiante da Hillary Clinton! Os outros dois não parecem tão interessados. Vou ter que me esforçar mais a disfarçar esta minha crescente desilusão, porque o que está em jogo é demasiado importante.

1 comentário:

  1. Escreveste sorry C.
    Acrescenta sorry Pedro.
    Sou abstencionista há muitos anos.
    Porque sou seguidor da filosofia de George Carlin - se eu não votar e não for responsável pela chegada ao poder da cambada de escroques que nos tem (des)governado há décadas, tenho toda a legitimidade para me queixar e os mandar à ......fava.
    Já há muitos anos que não aparece um projecto político que me motive minimamente.
    E as desilusões foram muitas.
    Mais ainda no breve período em que fui militante de um partido e assisti em primeira fila às baboseiras que se diziam e às aldrabices que se faziam.

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