segunda-feira, 30 de junho de 2014

Sun room

A nossa nova casa tem um sun room, na parte da frente da casa, adjacente à sala de estar e ao escritório. Cheio de luz.




E eu adorava ter uma destas cadeiras (dos designers americanos Charles e Ray Eames - comercializada pela primeira vez em 1956) para lá pôr! 



"Poltrona Charles Eames"


sábado, 28 de junho de 2014

The Middle

Já aqui fiz uma brevísima referência a esta série de televisão, mas acho que merece mais do que isso, quanto mais não seja porque tem sido a minha companheira fiel dos últimos serões. Como só me apercebi da sua existência muito recentemente (obrigada, Nanda!), tenho aproveitado o marasmo televisivo próprio do Verão para ver os episódios mais antigos, em dose dupla diária!

The Middle é uma série cómica (sitcom) que, com uma total ausência de glamour, conta as aventuras e desventuras de uma família americana do Midwest, classe média baixa, composta por pai, mãe e 3 filhos. Nesta série, não há gente bonita e bem vestida. Não há casas, nem bairros imaculados. Não há escritórios sofisticados, nem profissionais bem sucedidos. Há uma família "normal", que vive numa pequena cidade do interior, numa casa  (quase) sempre desarrumada e a precisar de manutenção, e com hábitos alimentares que deixam muito a desejar.

A mãe é a personagem principal e a narradora. Anda sempre a mil, num stress permanente. Acha que tem a obrigação de levar a família às costas e de apagar todos os pequenos fogos que vão surgindo no dia a dia. Chega sempre a correr do trabalho, tenta organizar a casa e a vida dos filhos, de uma forma ligeiramente obsessiva e controladora, raramente o conseguindo

O pai trabalha numa empresa de construção (acho eu ...) e sempre que pode (sempre que o deixam) instala-se no sofá da sala a ver televisão. É o membro da família mais calmo e equilibrado, e sempre que é preciso lá se envolve na complicada dinâmica familiar, normalmente apoiando a mulher e "chamando-a à razão" quando ela entra naquela espiral de loucura em que, às vezes, caem os obsessivo-controladores (até parece que sei do que estou a falar...)

O filho mais velho é um adolescente completamente nas tintas para tudo o que se passa à sua volta. Desleixado, passa a vida a resmungar e a implicar com tudo, principalmente com os irmãos. É popular na escola, tem jeito para o desporto, mas nos estudos faz o mínimo necessário, muitas vezes com a ajuda da mãe e até do irmão mais novo.

A filha do meio é super bem intencionada, sempre pronta a ajudar. Entusiasma-se com tudo mas, coitada, não tem jeito para nada. Está sempre a tentar inscrever-se em actividades, ser eleita para este ou aquele cargo. Nunca consegue, mas também nunca desiste. Tem muito boa onda!

O filho mais novo é muito introvertido e frequentemente esquecido pelo resto da família. É muito inteligente mas socialmente inapto. Não tem amigos, está sempre a ler, o que o distrai de tudo o resto que é suposto fazer, designadamente os trabalhos de casa, que quase sempre acaba a fazer, à última da hora, com a ajuda da mãe.

A série tem aquele lado moralista, tão típico das séries americanas. Tudo acaba sempre bem. No fim do dia, todos aprendem as lições que são supostos aprender. Mas dá-nos um retrato muito realista da família americana da classe média e é muito, muito divertida. Não aquele divertido de nos fazer dar gargalhadas sonoras. Mas um divertido de nos pôr um sorriso na cara e nos fazer passar um bom bocado em frente à televisão.  

 

Por fim, uma palavrinha para o genérico, que me chamou logo a atenção - uma estrada em linha recta, sem fim, com um campo de milho de um lado e um campo de soja do outro. Não podia ser melhor. É que o Midwest americano é isto mesmo, sem tirar nem por (para terem um ideia, metade do Estado de Illinois - uma superficie superior à de Portugal -  é ocupado com campos de milho e de soja). 

Sei que passa em Portugal, não sei em que canal. A ver!



quarta-feira, 25 de junho de 2014

Uma constatação

Se vivesse sozinha seria vegetariana! 

Corrijo: Se vivesse sozinha seria mais vegetariana!

Melhor ainda: Se vivesse sozinha, seria muito menos carnívora!

Acho que é isto. Sempre que estou sozinha a minha alimentação muda completamente. Às vezes não me apetece comer às horas tradicionais e não como. Às vezes não me apetece cozinhar e improviso. Mas, acima de tudo, posso dar-me ao luxo de comer o que realmente me apetece (dentro de certos limites, claro), sem ter que pensar em compatibilizar os gostos de 5 pessoas diferentes.  

E a verdade é que nunca me apetece comer carne, com excepção de carne branca, que para mim, nem é bem carne! É mais ou menos como o bacalhau, que não é bem peixe! Enfim, categorias à parte, acho que viveria muito bem sem comer regularmente carne de vaca e de porco. Claro que teria desejos. De repente, era bem capaz de sonhar com um Bife à Portugália, ou com uma bela de uma feijoada. E não teria nenhum problema em saciar o desejo, que não sou nada fundamentalista (bom, dadas as circunstâncias, o Bife à Portugália seria um pouco difícil, mas acho que conseguiria fazer um bom bife com muita molhanga, se o desejo fosse mesmo muito forte).

E muito provavelmente o meu corpo agradeceria a mudança, que cada vez mais é um dado adquirido que comer produtos de origem animal não é a melhor opção em termos de saúde. Mas tenho a certeza que haveria uma revolução cá em casa, que certas pessoas desta família não dispensam um bom bife ou uma boa costeleta!

Entretanto, é aproveitar as férias do pessoal. Aqui ficam alguns dos meus petiscos dos últimos dias:

 (Frango com salada de alface e tomate)

(Ovos mexidos com legumes salteados e o resto do tomate da véspera)
 (O resto dos legumes da véspera com o resto do frango da ante-véspera)

(Pizza vegetariana - o aspecto não é o melhor, mas o sabor é excelente!) 

 (Hoje ao almoço, sushi - sabe mesmo bem nos dias quentes de Verão!)

(E ao jantar, salmão com espargos)

domingo, 22 de junho de 2014

Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim*

Não estou habituada a estar sozinha e, quando isso acontece, os primeiros dias são óptimos. Sente-se uma leveza e uma liberdade enormes! Sabe bem ouvir o silêncio. Sabe bem não ter que ouvi-los a chamar-me constantemente. Sabe bem ter a casa só para mim e não ter que me preocupar com as horas das refeições. Sabe bem não ter que ir ao supermercado dia sim, dia não. Sabe mesmo bem! 

Mas à medida que os dias vão passando e que, aos poucos, vou fazendo todas aquelas coisas que normalmente não consigo fazer, o entusiasmo começa a esmorecer. E anseio ter gente à minha volta. A minha gente. No fundo, não gosto muito de estar sozinha. E não tenho grande necessidade de estar sozinha. 

Mas, com os miúdos a crescer a uma velocidade alucinante e a ficarem cada vez mais independentes. E com um marido que, principalmente no Verão, vira caixeiro-viajante, tenho que aprender a estar sózinha. Tenho que saber estar comigo e gostar de estar só comigo! Em paz. Com naturalidade. Sem dramas. Ser capaz de estar sózinha, sem me sentir sózinha. Apreciar a liberdade de fazer o que quero, quando quero, sem ter que acomodar os interesses, as necessidades ou os caprichos de ninguém. Pensando bem, sou bem capaz de me habituar a isto mais rapidamente do que pensava!


* Álvaro de Campos, Poemas


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Um fim de tarde "kids free"!


Um fim de tarde de Verão. Uma esplanada. Uma cerveja fresquinha. Foi ontem e soube mesmo bem!


(Downtown Champaign)


terça-feira, 17 de junho de 2014

Chegou a minha vez de ... contratar um advogado!

Quando decidimos comprar casa e encontrámos uma que nos encheu as medidas, toda a gente nos recomendou que arranjássemos um advogado para rever a papelada e nos acompanhar no processo de negociação. Ainda hesitei, afinal de contas não deveria ser assim tão complicado, mas como todo o processo é, de facto, um pouco diferente do nosso, lá concluimos que era melhor não arriscar. Afinal de contas, comprar uma casa é um grande investimento. Para além de que estávamos escaldados com um negócio imobiliário que, não há muito tempo, correu mal a uns amigos nossos.

Lá contactei uma advogada, recomendada por uma amiga. Falámos algumas vezes ao telefone, trocámos vários e-mails, ela reviu o contrato e negociou algumas cláusulas com a advogada dos vendedores, e elaborou e autenticou uma procuração que o Rui outorgou a meu favor. E acho que foi isto. Correu tudo bem. Conseguimos chegar a acordo com os vendedores e lá assinámos o contrato. 

Posto isto, estava na hora de pedir a conta de honorários à advogada. E aí, confesso, fiquei um bocadinho preocupada. Não sabia bem o que esperar. Na verdade, não fazia a menor ideia de quanto é que ela nos iria cobrar, pois confiando na palavra da minha amiga, não lhe tinha perguntado quais eram o seus honorários. Comecei logo a pensar nos processos judiciais milionários que às vezes ouvimos falar!

Há uns dias chegou a conta pelo correio. Respirei fundo e lá abri, a medo, o envelope. E respirei aliviada! Foram $ 460, cerca de 340 euros, por 2,5 horas de trabalho. Não é pouco, se pensarmos no que a maioria das pessoas ganha, mas comparável ao que muitos advogados cobram em Lisboa. Ainda não foi desta que fomos esmagados pelo sistema!




sábado, 14 de junho de 2014

A evolução do princípio da igualdade nos EUA

O texto que se segue é da autoria do Francisco Teixeira da Mota e foi publicado esta semana na sua coluna semanal "Escrever Direito" do jornal Público. É sobre um tema muito interessante - a evolução legal e social do princípio da igualdade, a partir da questão da segregação racial nos Estados Unidos - escrito por uma das pessoas que, em Portugal, melhor conhece o sistema judicial americano. 

No final do artigo está o link para um artigo muito bom da autoria de António Araújo (publicado no blog malomil), que conta a história de Ruby Bridges, uma menina negra que, no início da década de 60, com 6 anos de idade, foi uma das primeiras a frequentar uma escola só de brancos, na cidade de Nova Orleães, no Lousiana, bem no Sul dos EUA. No artigo, a história da menina mistura-se com a do pintor Norman Rockwell e do quadro que pintou da pequena Ruby a ser escoltada, no caminho para a escola, por 4 agentes federais. Curiosamente, na altura, Rockwell nem sabia o nome da pequena Ruby, pois apesar de a sua história ter sido muito noticiada nos jornais da época, o seu nome foi sempre omitido. Vale muito a pena ler. Fica a sugestão!

 

"Homer Plessy, um cidadão norte-americano mestiço, em 1892 comprou um bilhete de comboio em primeira classe de New Orleans para Covington. Entrou para uma carruagem só para brancos e, quando foi instado a sair da carruagem e a sentar-se na carruagem que era destinada às pessoas de cor, recusou-se a fazê-lo pelo que  foi detido por violação da lei.

Plessy bem sabia que estava a violar a lei, fazia-o por não concordar com a mesma. Levado a julgamento, invocou em seu favor a 13.ª e a 14.ª Emenda, que, entre outras coisa e respectivamente,  proíbem a escravatura e asseguram a igualdade de todos os cidadãos perante a lei. O juiz que o julgou, John Ferguson considerou, no entanto, que o estado da Louisiana tinha todo o direito de legislar sobre o funcionamento dos comboios que operavam dentro do estado e condenou-o no pagamento de uma multa de 25 dólares. Plessy levou o caso ao Supremo Tribunal que veio a julgar o caso Plessy v. Ferguson em 1896 numa decisão com 7 votos a favor e um contra.

O Supremo Tribunal considerou que uma lei que reconhecia a diferença nas cores “não tinha uma tendência para destruir a igualdade entre as duas raças”. Mais afirmou  que a garantia de igualdade assegurada pela 14.ª Emenda não obrigava a “uma igualdade social, distinta da igualdade politica, ou a uma mistura das raças em termos insatisfatórios para ambas”. Para o Supremo Tribunal, não violava o constitucional princípio da igualdade, uma lei que impunha o princípio “separados, mas iguais”;  no fundo, as carruagens para as pessoas de cor deviam era ter a mesma qualidade das carruagens para os brancos. Era o que  a lei previa, pelo que Plessy não tinha razão e a lei do estado de Lousiana manteve-se em vigor.

Não só se manteve em vigor como a decisão do Supremo Tribunal incentivou numerosos estados norte-americanos a produzirem legislação segregacionista aos mais diversos níveis: nas escolas, nas casa de banho ou nos cafés,   sempre respeitando teoricamente o princípio “separados, mas iguais” mesmo quando, na prática, a qualidade das instalações para brancos e para negros apresentava abissais diferenças.

Em 1938, no caso Missouri ex rel. Gaines v. Canada,  o Supremo Tribunal, alargou a aplicação prática do princípio da igualdade, ao introduzir uma mudança na doutrina de “separados, mas iguais”. Concretamente, obrigou o estado do Missouri a aceitar um estudante negro numa universidade só para brancos, já que não havia uma universidade só para negros naquele estado. Para o Supremo Tribunal, a oferta do estado do Missouri de suportar as despesas dos estudos do estudante negro numa universidade para negros fora do Missouri, violava o princípio da igualdade.

Mas o princípio  da igualdade constitucionalmente consagrado só viria a sofrer uma profunda revolução em 1954, no caso Brown v. Board of Education.

No Outono de 1951, numa acção concertada na cidade de Topeka no Kansas,  vários pais de alunos liceais negros, inscreveram os filhos em escolas só para brancos e viram-nos recambiados para as escolas só para negros. Recorreram para o tribunal, alegando que as escolas para negros não eram iguais às escolas para brancos, nem nunca o poderiam ser, estando a ser violado o princípio da igualdade mas o tribunal estadual deu razão ao ministério da educação. Segundo o tribunal, as escolas para negros eram “substancialmente iguais” às escolas para brancos pelo que a lei que as suportava era constitucional já que respeitava a “doutrina Plessy” acima referida.

Recorreram então para o Supremo Tribunal,  advogando a sua causa o notável Thurgood Marshall que viria a ser o primeiro juiz negro do Supremo Tribunal norte-americano. A decisão foi unânime: a segregação racial nas escolas públicas violava a igualdade prevista na 14.º Emenda constitucional.

A educação pública no século XX, segundo o Supremo Tribunal, era uma componente essencial da vida pública de qualquer cidadão, formando a base da cidadania democrática, da normal sociabilização e do treino profissional. Neste contexto, qualquer criança a quem fosse negado o direito a uma boa educação, provavelmente seria um falhado na vida.

Para o Supremo Tribunal de 1954, mesmo que as instalações escolares para negros e brancos fossem substancialmente iguais, ainda assim havia violação do princípio da igualdade já que a mera separação das crianças com base na raça criava perigosos complexos de inferioridade com consequências lamentáveis para as crianças, nomeadamente na sua capacidade de aprendizagem. Instalações escolares separadas entre brancos e negros eram "inerentemente desiguais".

Entre 1896 e 1954, o texto constitucional permaneceu igual mas a igualdade mudou...

Se quer ler e ver uma história fascinante das consequências do caso Brown v. Board of Education, não hesite e vá a http://malomil.blogspot.pt/2012/06/ruby-bridges-visits-with-president-and.html


E aqui fica o link para o artigo do Teixeira da Mota no Público:

http://www.publico.pt/mundo/noticia/a-evolucao-do-principio-da-igualdade-nos-eua-1639670

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Cocó no chão

Durante 5 anos tive o prazer e o privilégio de viver no Bairro do Restelo, um dos mais emblemáticos bairros de Lisboa. Um sítio espectacular para se viver, mas onde, como é óbvio, nem tudo eram rosas. A maior parte das famílias tinham cães, que passeavam pelo Bairro todos os dias, às vezes mais do que uma vez por dia. Infelizmente, quase ninguém limpava o cocó que iam fazendo pelo caminho, pelo que andar a pé pelo Bairro tinha esse lado muito desagradável. Tinhamos que estar permanentemente atentos, caso contrário ainda pisávamos um dos lindos presentes que havia espalhados por todo o lado.

No caminho de nossa casa até ao café ou até ao parque ía sempre a dizer: Cuidado! Vejam onde põem os pés. Claro que havia excepções, mas eram isso mesmo. Excepções. E a Matilde perguntava sempre: Porque é que não limpam o cocó como fazia a N. quando passeava a Alice? Porque as pessoas são porcas, respondia eu de mau humor, em voz suficientemente alta, na esperança que houvesse alguém, atrás do muro mais próximo, a ouvir-me e a enfiar a carapuça!

Felizmente, aqui não há cocó nos passeios. Há muitos cães. Na verdade, todas as famílias parecem ter um cão (o que faz com que ouça a pergunta: Mas porque é que NÓS não podemos ter um cão?, vezes de mais para o meu gosto). Mas toda a gente apanha os cocós para saquinhos de plástico, que trazem cuidadosamente de casa. Este pessoal é para lá de civilizado! Às vezes lá andam aos tiros uns contra os outros, mas fora isso, são muito civilizados! Mas o hábito de olhar atentamente para o chão ficou. E quando passeamos a pé dou por mim a olhar constantemente à minha volta, quão detective à procura do cocó no chão!


domingo, 8 de junho de 2014

A falar é que a gente se entende

Uma das amigas da Matilde tem uma irmã mais nova que é muito envergonhada. Raramente fala com as pessoas ou sequer olha para elas. No outro dia, enquanto a observava, lembrei-me de mim quando era pequena. Lembrei-me que muitas vezes evitava falar com as pessoas e, para isso, nada melhor do que não as olhar olhos nos olhos. Olhando para trás, acho que era um misto de vergonha e de falta de paciência para certas conversas/pessoas. Ou, se calhar, era mesmo má educação pura e simples (nariz empinado como diz a minha amiga C.) Ficam as duas hipóteses.

Lembro-me que ía muitas vezes a pé à mercearia que ficava ao fundo da minha rua, junto ao apeadeiro. A uns 500 metros da minha casa. Como não havia hipermercados, e mesmo os supermercados eram uma raridade, não se faziam compras à semana ou ao mês. Quando era preciso alguma coisa ía-se à mercearia. Havia dias que ía lá várias vezes. A resmungar, claro!

E lá ía, e sempre que avistava alguém ao longe ou sempre que me aproximava de uma daquelas casas que eu já sabia tinha sempre alguém à porta ou à janela, aquelas velhotas que parecia que não tinham nada para fazer, ferrava os olhos no chão e não levantava a cabeça até me sentir a salvo. E se, mesmo assim, lá ouvisse um "Olá Paulinha", rosnava qualquer coisa e continuava em passo firme, para não dar qualquer hipótese de conversa.

Mas todos me conheciam e apesar de já saberem do que a casa gastava, muitas vezes faziam queixinhas à minha mãe ou à minha avó. E lá vinham elas perguntar se me custava muito cumprimentar as pessoas. Dizer "Bom dia" ou "Boa tarde". Que não podia ser, que era má educacão. E eu lá lhes tentava explicar que aquelas pessoas não se satisfaziam com um "Bom dia" ou "Boa tarde". Queriam conversa e eu não estava para as aturar.

E tinha o mesmo tipo de comportamento em muitas outras situações. Era relativamente introvertida. Não me era fácil a interacção social com pessoas que não conhecesse bem, quer fossem crianças ou adultos. Com o passar dos anos, fui mudando. Mudei muito. Hoje, em dia, adoro conversar e converso muito. Às vezes demais. Sobre coisas importantes ou banalidades. Com pessoas que conheço bem ou nem por isso. Afinal de contas, como diz o provérbio, "a falar é que a gente se entende".

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Yearbook 2013-2014

É mesmo como nos filmes. Há uns dias, o Miguel, primeiro e depois a Matilde, chegaram a casa com os seus Yearbooks

Todos os anos, cada escola faz o seu, com as fotografias de todos os alunos e um apanhado de fotografias que mostram as diversas actividades e eventos que aconteceram ao longo do ano. É uma ideia gira e uma boa recordação. Espero que não seja nunca uma fonte de embaraço para nenhum deles!

Na escola do Miguel, há mesmo uma disciplina opcional que se chama Yearbook, onde se inscrevem miúdos, que gostem de jornalismo, fotografia, design gráfico e afins, cujo projecto pincipal é precisamente conceberem e produzir o Yearbook, que depois é editado por profissionais. Na escola da Matilde a coisa é mais amadora, mas a ideia é a mesma.







terça-feira, 3 de junho de 2014

Arranca Albuquerque!

Nos Verões da minha adolescência, o nosso destino de férias era o Algarve, sempre para os lados do Sotavento: Praia Verde, Monte Gordo, Vila Real de Santo António. As viagens eram sempre planeadas ao milímetro e os preparativos começavam com vários dias de antecedência. E não era para menos, pois levávamos praticamente a casa às costas. Na mala do carro, no tejadilho, no atrelado. É que para além da roupa e da tralha da praia, ainda levávamos todo o tipo de mantimentos, que no Algarve, diziam, as coisas eram mais caras. 

No dia da partida, levantavamo-nos muito cedo, porque tinhamos que passar o Alentejo antes da hora do calor. Ou seja, tinhamos que sair de Coimbra, no máximo, por volta das 6 da manhã. Para a minha irmã, coitada, o dia da viagem era um pesadelo. Enjoava e vomitava várias vezes. Quando ela dizia: "vou vomitar", a minha mãe só tinha tempo para se virar para trás e lhe pôr um saco de plástico à frente da cara. Nunca saía de casa sem trazer vários dentro da carteira. A seguir parávamos para ela apanhar um pouco de ar e seguíamos viagem. E assim era até chegarmos ao Algarve.

Num desses Verões, fizemos as viagens de ida e volta com 3 casais amigos, e essas viagens acabaram por ficar para sempre na nossa memória. Não havia auto-estradas, nem áreas de serviço, mas de vez em quando lá parávamos para meter gasolina e comer qualquer coisa. Numa dessas paragens, quando nos preparávamos para regressar à estrada, uma das amigas que ía connosco, após olhar pelo espelho retrovisor lateral do seu carro, vira-se para o marido assustada e disse:
- Arranca, Albuquerque, que vem um gajo atrás de nós desde Coimbra. Referia-se à roulotte que traziam atrelada ao carro deles! Coitada, há horas que vinha aflita a pensar que estava a ser perseguida por um maluco qualquer.
Ainda hoje, basta dizer a expressão "Arranca Albuquerque" para eu e a minha mãe nos rirmos até às lágrimas!

Na viagem de regresso, em pleno Ribatejo, um dos carros dos nossos amigos (ou uma das roulottes ou atrelados, já não me recordo) perdeu uma roda, que se soltou do carro com ele em andamento e desapareceu a grande velocidade. Parámos todos e toca de nos pormos à procura do bendito pneu. À nossa volta só havia meloais a perder de vista, e lá andámos todos, sei lá quanto tempo, debaixo de um sol abrasador. Às tantas, uma das nossas amigas, cruzou-se com um agricultor que andava a apanhar melões e perguntou-lhe: "O senhor, desculpe-me, mas por acaso não viu por aqui passar um pneu a grande velocidade?" O homem olhou para ela, como se estivesse a olhar para uma maluquinha fugida do manicómio! Muito tempo depois, lá encontrámos o pneu no meio dos melões, e fomos até Coruche, a povoação mais próxima, à procura de um mecânico que resolvesse o problema. Deambulámos, durante várias horas, por Coruche, de onde só saímos já era de noite. E por esta razão esta cidadezinha Ribatejana ficou a fazer parte das minhas memórias!

domingo, 1 de junho de 2014

A minha criança





Para a Matilde, o ano está dividido em 2 partes. Nos primeiros sete meses do ano planeia intensamente o dia da criança e o seu dia de anos. Nos últimos 5 meses do ano planeia intensamente o Natal. 

Quando era mais pequenina, este planeameno resumia-se a decidir qual seria a sua prenda, decisão esta que ia mudando ao longo dos meses, ao sabor das modas e, principalmente, do que via na casa das amigas. Com o passar dos anos, o planeamento vai ganhando sofisticação, e para além da prenda, planeia como quer passar esses dias para ela tão especiais. E até já faz listas, o que deixa esta mãe muito orgulhosa!

Regra geral, os seus planos nada têm de muito sofisticado e as prendas que acaba por escolher nem são nada do outro mundo. Na verdade, o que lhe dá mesmo muito gozo é pensar no que gostaria de ter e fazer e planear tudo ao pormenor. E se, no dia em causa, por esta ou aquela razão, as coisas não acontecerem como ela imaginou, não há problema, pois o plano B é sempre recebido com igual entusiasmo! Esta minha filha tem mesmo bom feitio!

Hoje, dia da criança (em Portugal), quis ir à Mall logo de manhã comprar a sua prenda: uns lacinhos para pôr no cabelo! A seguir no seu plano está comer frozen yogurt e fazer brownies para o lanche. E assim se fez esta criança feliz!