domingo, 22 de junho de 2014

Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim*

Não estou habituada a estar sozinha e, quando isso acontece, os primeiros dias são óptimos. Sente-se uma leveza e uma liberdade enormes! Sabe bem ouvir o silêncio. Sabe bem não ter que ouvi-los a chamar-me constantemente. Sabe bem ter a casa só para mim e não ter que me preocupar com as horas das refeições. Sabe bem não ter que ir ao supermercado dia sim, dia não. Sabe mesmo bem! 

Mas à medida que os dias vão passando e que, aos poucos, vou fazendo todas aquelas coisas que normalmente não consigo fazer, o entusiasmo começa a esmorecer. E anseio ter gente à minha volta. A minha gente. No fundo, não gosto muito de estar sozinha. E não tenho grande necessidade de estar sozinha. 

Mas, com os miúdos a crescer a uma velocidade alucinante e a ficarem cada vez mais independentes. E com um marido que, principalmente no Verão, vira caixeiro-viajante, tenho que aprender a estar sózinha. Tenho que saber estar comigo e gostar de estar só comigo! Em paz. Com naturalidade. Sem dramas. Ser capaz de estar sózinha, sem me sentir sózinha. Apreciar a liberdade de fazer o que quero, quando quero, sem ter que acomodar os interesses, as necessidades ou os caprichos de ninguém. Pensando bem, sou bem capaz de me habituar a isto mais rapidamente do que pensava!


* Álvaro de Campos, Poemas


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