domingo, 8 de junho de 2014

A falar é que a gente se entende

Uma das amigas da Matilde tem uma irmã mais nova que é muito envergonhada. Raramente fala com as pessoas ou sequer olha para elas. No outro dia, enquanto a observava, lembrei-me de mim quando era pequena. Lembrei-me que muitas vezes evitava falar com as pessoas e, para isso, nada melhor do que não as olhar olhos nos olhos. Olhando para trás, acho que era um misto de vergonha e de falta de paciência para certas conversas/pessoas. Ou, se calhar, era mesmo má educação pura e simples (nariz empinado como diz a minha amiga C.) Ficam as duas hipóteses.

Lembro-me que ía muitas vezes a pé à mercearia que ficava ao fundo da minha rua, junto ao apeadeiro. A uns 500 metros da minha casa. Como não havia hipermercados, e mesmo os supermercados eram uma raridade, não se faziam compras à semana ou ao mês. Quando era preciso alguma coisa ía-se à mercearia. Havia dias que ía lá várias vezes. A resmungar, claro!

E lá ía, e sempre que avistava alguém ao longe ou sempre que me aproximava de uma daquelas casas que eu já sabia tinha sempre alguém à porta ou à janela, aquelas velhotas que parecia que não tinham nada para fazer, ferrava os olhos no chão e não levantava a cabeça até me sentir a salvo. E se, mesmo assim, lá ouvisse um "Olá Paulinha", rosnava qualquer coisa e continuava em passo firme, para não dar qualquer hipótese de conversa.

Mas todos me conheciam e apesar de já saberem do que a casa gastava, muitas vezes faziam queixinhas à minha mãe ou à minha avó. E lá vinham elas perguntar se me custava muito cumprimentar as pessoas. Dizer "Bom dia" ou "Boa tarde". Que não podia ser, que era má educacão. E eu lá lhes tentava explicar que aquelas pessoas não se satisfaziam com um "Bom dia" ou "Boa tarde". Queriam conversa e eu não estava para as aturar.

E tinha o mesmo tipo de comportamento em muitas outras situações. Era relativamente introvertida. Não me era fácil a interacção social com pessoas que não conhecesse bem, quer fossem crianças ou adultos. Com o passar dos anos, fui mudando. Mudei muito. Hoje, em dia, adoro conversar e converso muito. Às vezes demais. Sobre coisas importantes ou banalidades. Com pessoas que conheço bem ou nem por isso. Afinal de contas, como diz o provérbio, "a falar é que a gente se entende".

1 comentário:

  1. Eu sempre fui o oposto, e com a idade vou piorando... Falo com toda a gente. O Jorge fica sempre abismado com o meu ¨dom¨ para a conversa de ¨xáxa¨ . Ele não se conforma quando andamos juntos pelo bairro, onde ele cresceu, que ele não conhece ninguém e eu paro de dois em dois minutos para falar com alguém, cumprimentar, saber se chegou um produto numa loja... Vou falando, falando... sem parar! beijos

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