terça-feira, 3 de junho de 2014

Arranca Albuquerque!

Nos Verões da minha adolescência, o nosso destino de férias era o Algarve, sempre para os lados do Sotavento: Praia Verde, Monte Gordo, Vila Real de Santo António. As viagens eram sempre planeadas ao milímetro e os preparativos começavam com vários dias de antecedência. E não era para menos, pois levávamos praticamente a casa às costas. Na mala do carro, no tejadilho, no atrelado. É que para além da roupa e da tralha da praia, ainda levávamos todo o tipo de mantimentos, que no Algarve, diziam, as coisas eram mais caras. 

No dia da partida, levantavamo-nos muito cedo, porque tinhamos que passar o Alentejo antes da hora do calor. Ou seja, tinhamos que sair de Coimbra, no máximo, por volta das 6 da manhã. Para a minha irmã, coitada, o dia da viagem era um pesadelo. Enjoava e vomitava várias vezes. Quando ela dizia: "vou vomitar", a minha mãe só tinha tempo para se virar para trás e lhe pôr um saco de plástico à frente da cara. Nunca saía de casa sem trazer vários dentro da carteira. A seguir parávamos para ela apanhar um pouco de ar e seguíamos viagem. E assim era até chegarmos ao Algarve.

Num desses Verões, fizemos as viagens de ida e volta com 3 casais amigos, e essas viagens acabaram por ficar para sempre na nossa memória. Não havia auto-estradas, nem áreas de serviço, mas de vez em quando lá parávamos para meter gasolina e comer qualquer coisa. Numa dessas paragens, quando nos preparávamos para regressar à estrada, uma das amigas que ía connosco, após olhar pelo espelho retrovisor lateral do seu carro, vira-se para o marido assustada e disse:
- Arranca, Albuquerque, que vem um gajo atrás de nós desde Coimbra. Referia-se à roulotte que traziam atrelada ao carro deles! Coitada, há horas que vinha aflita a pensar que estava a ser perseguida por um maluco qualquer.
Ainda hoje, basta dizer a expressão "Arranca Albuquerque" para eu e a minha mãe nos rirmos até às lágrimas!

Na viagem de regresso, em pleno Ribatejo, um dos carros dos nossos amigos (ou uma das roulottes ou atrelados, já não me recordo) perdeu uma roda, que se soltou do carro com ele em andamento e desapareceu a grande velocidade. Parámos todos e toca de nos pormos à procura do bendito pneu. À nossa volta só havia meloais a perder de vista, e lá andámos todos, sei lá quanto tempo, debaixo de um sol abrasador. Às tantas, uma das nossas amigas, cruzou-se com um agricultor que andava a apanhar melões e perguntou-lhe: "O senhor, desculpe-me, mas por acaso não viu por aqui passar um pneu a grande velocidade?" O homem olhou para ela, como se estivesse a olhar para uma maluquinha fugida do manicómio! Muito tempo depois, lá encontrámos o pneu no meio dos melões, e fomos até Coruche, a povoação mais próxima, à procura de um mecânico que resolvesse o problema. Deambulámos, durante várias horas, por Coruche, de onde só saímos já era de noite. E por esta razão esta cidadezinha Ribatejana ficou a fazer parte das minhas memórias!

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