sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A isto se chama auto-confiança

Este semestre o Rui está a dar uma cadeira do curso de pós-graduação. É uma daquelas cadeiras "básicas" que todos os estudantes de Doutoramento em Matemática têm que fazer. No início de Agosto, antes das aulas começarem, recebeu um e-mail de um miúdo que ía começar, este ano, o 1º ano da licenciatura - um caloiro, portanto.

Apresentou-se e perguntou-lhe se podia fazer a cadeira dele. O Rui respondeu-lhe que não, que a cadeira que ele ía dar era uma cadeira demasiado avançada e que não fazia sentido estar a fazê-la no 1º ano. Pensou, claro, que o assunto ficava arrumado. Mas no dia seguinte, recebeu novo e-mail do dito aluno. Desta vez, um looooongo e-mail onde ele explicava porque razão queria fazer a cadeira dele, e porque achava que a conseguiria fazer. 

O Rui respondeu-lhe em 2 linhas - só pelo trabalho que ele tinha tido a escrever aquele e-mail, merecia poder inscrever-se na cadeira. No 1º dia de aulas, antes da aula começar, lá apareceu o miúdo a perguntar-lhe se ele estava mesmo a falar a sério, se podia mesmo fazer a cadeira. E o Rui disse-lhe que sim.

Lá ficou e voltou todos os dias dessa semana. No final dessa primeira semana,  foi ter com o Rui no final da aula e perguntou-lhe se ele não poderia dar a matéria a um ritmo um bocadinho mais rápido. Estava a ir muito lentamente! E segundo o Rui não é show off. O miúdo é esperto e percebe bem o que por ali se está a fazer. Se calhar o mesmo não poderá ser dito de alguns alunos de doutoramento que lá estão por direito próprio ...

E isto é mais um exemplo da liberdade que existe nas Universidades Americanas na escolha das cadeiras que se fazem. Imagine-se em Portugal um aluno tentar fazer no 1º ano uma cadeira do curso de Doutoramento, ou até uma cadeira da licenciatura, mas de um ano mais avançado? Aposto que a resposta seria - "O sistema não permite". Aqui basta o respectivo professor autorizar. Naturalmente que aqui também há regras e se este aluno quiser obter o seu Major em Matemática terá de fazer um certo número de cadeiras obrigatórias (que provavelmente fará de olhos fechados ...), mas ainda assim há uma grande liberdade na composição do currículo e na escolha das cadeiras, o que permite, de certa maneira, personalizar o curso, aproximando-o, dentro do possível, daquilo que são os gostos e os interesses de cada um. 

1 comentário:

  1. E será por essas e outras razões semelhantes que as instituições de ensino superior americanas aparecem sempre tão mal classificadas em todos os rankings, não é?
    Boa semana!

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