terça-feira, 7 de outubro de 2014

Queria ser igual a todas as outras

No outro dia, li algures uma mãe a lamentar que a filha se recusava a levar para a escola uma qualquer peça de roupa fora do vulgar, porque não queria dar nas vistas. Não queria ser, nem parecer, diferente das outras meninas. A mãe, claro, ainda tentou argumentar que cada pessoa é uma pessoa e que a diversidade é uma coisa boa. Mas a miúda queria ser igual a todas as outras. E isso soou-me estranhamente familiar. Recuei no tempo, e voltei à minha escola primária, em S. Martinho do Bispo. 

Quando fui para a 1ª classe (em 1972 ou 73), antes da aula começar, tínhamos que rezar. Todos os dias, todos de pé, ao lado da respectiva carteira. Ora eu, filha de pai ateu, que não ía à missa, nem à catequese, não sabia rezar. Nada. Nem o Pai Nosso ou a Avé Maria. Mas todos os dias, me levantava e fingia que rezava. Mexia os lábios, como se estivesse a dizer a mesma lenga-lenga que todos os outros e "rezava" para que ninguém reparasse que eu não fazia a mínima ideia do que era suposto estar a dizer. 

Era a única que ao Sábado à tarde não ía à catequese e não gostava nada de ser diferente. Ou, pelo menos, de me sentir diferente. Na altura, não falei do assunto com ninguém. Não falava disso com as minhas amigas, porque isso implicava assumir que era diferente e não falava do assunto em casa para não dar um desgosto ao meu pai. 

Mas calma, pessoal, nada disto me traumatizou! Tanto quanto me lembro, a reza rapidamente passou à história (deve ter sido com o 25 de Abril!) e não foi preciso muito tempo para perceber que, afinal, eu era alvo de inveja entre as minhas amigas. Era a única que ao Sábado não tinha que apanhar seca na catequese! 

1 comentário:

  1. As minhas filhas andam numa escola Bahai.
    Mas já avisei, mais que uma vez, que não há cá rezas para ninguém.
    A Mariana (a mais pequenina) quis ir para a catequese e quis fazer a primeira comunhão.
    Foi ela que quis e foi quando ela quis.
    A Catarina é católica, é crente.
    Mas, tal como o pai, não é praticante.
    Se, e quando, o quiser ser, terá todo o meu apoio.
    Como teve a pequenita que me obrigava a levantar todos os domingos bem cedo para a ir levar e buscar à catequese.
    Essas coisas não se forçam, têm de ser naturais.

    ResponderEliminar