terça-feira, 14 de outubro de 2014

De emigrante para emigrante

Temos um amigo que está prestes a emigrar. Vai numa situação muito diferente daquela em que nós viemos: Nós viemos por opção; ele vai por necessidade. Nós viemos em família; ele vai sózinho e deixa a sua família em Portugal. Nós viemos para os Estados Unidos; ele vai para Angola. Tenho a certeza que as nossas experiências vão ser muito diferentes, mas há coisas por que todos os que tomam esta decisão de partir passam, no matter what.

Emigrar é uma aventura, com mais ou menos riscos. É um salto no desconhecido, que nos obriga a deixar a nossa zona de conforto, as nossas rotinas, as nossas pessoas e os nossos sítios. Nos primeiros dias, parece que andamos anestesiados. É tudo novo. Não paramos. Somos engolidos pelas mil e uma coisas que temos que tratar. Não temos muito tempo para pensar e muito menos para mergulhar em grandes divagações existenciais. 

Depois, a poeira assenta. Começamos a ter tempo para olhar à nossa volta. Começamos a criar pequenas rotinas, a conhecer este novo sítio e novas pessoas. A pouco e pouco. De vez em quando, quando as coisas não correm tão bem, ou quando temos um momento de mais calma ou solidão, lá nos vem aquela dúvida: Mas, o que é que eu estou aqui a fazer? Onde é que eu estava com a cabeça? Estes são momentos decisivos. Não podemos  deixar que estes pensamentos nos dominem, que cresçam dentro de nós. Afinal de contas, é muito fácil romantizar o que ficou para trás.

Estou em crer que o factor decisivo nesta aventura é a nossa capacidade de olhar para fora. De nos integrarmos nesta nova comunidade. De termos disponibilidade mental para sentirmos como nossos, a nova casa, o novo bairro, a nova cidade. Não ter medo de conhecer pessoas, fazer novos amigos. Tudo isto dá trabalho. Nada é garantido. Mas o pior que podemos fazer é fecharmo-nos. Dentro de nós próprios ou de quatro paredes. E é tão fácil nos dias que correm cair nessa tentação. Acharmos que nos bastam as redes sociais, o mundo virtual e os amigos que estão à distância de um clic. Nem que seja porque é o mais fácil e cómodo. Nada de mais errado, ainda que tudo isto tenha as suas inegáveis vantagens, sem as quais, na verdade, já nem me imagino a viver! 

Uma coisa é certa, aos poucos, as rotinas instalam-se. Tudo à nossa volta nos começa a parecer familiar. Cada vez mais familiar. A nossa casa, a nossa rua, os vizinhos, o supermercado, o café. E é aí que começamos a sentir que a ordem se restabeleceu e, com ela, vem uma enorme paz de espírito.

Posto isto, querido amigo R. desejo-te tudo de bom nesta nova aventura. Se e quando as coisas estiverem mais negras, lembra-te que é sempre possível ver o copo meio cheio. E que os amigos de sempre estão mesmo à distância de um clic.

1 comentário:

  1. Estás a dar-me uma novidade.
    Sabia que ele tinha as malas feitas para partir a qualquer momento, não sabia que o momento tinha chegado.
    Vou-lhe mandar uma mensagem imediatamente.

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