quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O regresso a casa

Domingo, dia 5 de Janeiro – O nosso dia começou cedo. E nem podia ser de outra maneira. Tínhamos o primeiro voo às 7 da manhã e pela frente (achávamos nós) mais 2 voos e uma viagem de carro de 2 horas até Urbana. Se tudo corresse bem estaríamos em casa por volta da meia-noite de Domingo ...

O despertador tocou às 4:30 da manhã. Foi difícil levantar-me e muito difícil arrancar a Matilde da cama. Mas lá nos arranjámos todos. A passagem pelo aeroporto de Lisboa deixa-nos sempre stressados. Muita gente. Filas intermináveis. Uma organização que deixa muito a desejar. Em contrapartida o voo da TAP que nos levou de Lisboa a Amesterdão foi impecável: hospedeiras simpáticas, comida muito decente e até a revista de bordo – Up – é boa! Artigos interessantes, sobretudo sobre Portugal e os portugueses, e fotografias excelentes.

No gigantesco, luminoso e bem organizado aeroporto de Amesterdão – Schiphol – comemos a última (pequena) refeição na Europa, após o que tivemos que passar pela segurança americana – somos revistados “à séria” e verificam os passaportes e restante documentação 2 ou 3 vezes. Sinto sempre um nervoso miudinho!

O voo que nos leva da Europa (Amesterdão) para os USA (Philadelphia) é longo. O tempo custa a passar. O espaço é exíguo. O filme que passa no avião é um deja vuEnough Said (o filme que vimos na nossa primeira ida ao cinema em Urbana). Quando já estávamos a mais de meio da viagem somos informados pelo Comandante que vamos fazer uma breve paragem em Bangor, no Maine, que fica na pontinha nordeste dos USA, para reabastecer o avião. É uma cidadezinha no meio de florestas e lagos, toda coberta de neve. A paragem demorou cerca de 1 hora. Enquanto aguardávamos dentro do avião soubemos que, por causa do mau tempo, o nosso voo de Philadelphia para Indianápolis tinha sido cancelado. A coisa prometia ...

Quando chegámos a Philadelphia apercebemo-nos imediatamente que afinal não era só o nosso voo que tinha sido cancelado. O aeroporto de Indianápolis, bem como muitos outros do Midwest, estavam encerrados. Lá passámos os Serviços de Imigração, fomos buscar a bagagem (4 malas enormes) e passámos a Alfândega. O que se seguiu foi o início da pequena odisseia que tínhamos pela frente ... 

O aeroporto de Philadelphia estava uma confusão. Tentámos remarcar o nosso voo para o dia seguinte, mas estava tudo cheio. Ficámos em lista de espera no primeiro voo da manhã de Segunda-feira. Dito assim até parece que foi um processo simples e rápido. Mas não! Fomos para uma fila, falámos com um funcionário, que incapaz de nos resolver o problema, nos enviou para outro que ficava no outro lado do edifício. Lá fomos, arrastando 4 malas enormes atrás de nós. Nova fila, novo funcionário, em vão. O melhor que conseguiram foi colocar-nos em “stand by” para o tal primeiro voo da manhã seguinte.

Entretanto era de noite. Estávamos todos muito cansados. Mas como o cancelamento do voo foi devido ao mau tempo, a companhia aérea não arranjava hotéis para ninguém.  O Rui lá se pôs em campo e (bendita internet) rapidamente encontrou um hotel perto do aeroporto que ainda tinha quartos disponíveis! Lá fomos à procura do shuttle que nos levou ao hotel. Sempre a arrastar 4 malas enormes atrás de nós! Mas que bem que soube tomar um duche quente e ter uma caminha para dormir!

Segunda, dia 6 de Janeiro - O nosso dia voltou a começar cedo. O despertador tocou às 5 da manhã, pois o tal primeiro voo da manhã era às 7. Nem tivemos tempo para tomar o pequeno-almoço no hotel. Chegámos ao aeroporto e verificámos que o “nosso” voo tinha sido cancelado! E todos os outros desse dia de Philadelphia para Indianápolis estavam cheios! Bem como os de Philadelphia para qualquer outra cidade do Midwest (nesta altura do campeonato já estávamos por tudo ...).

Lá voltamos nós ao “guichet” da US Airways. Mais filas intermináveis. Só nos “garantiam” voo no dia seguinte e em 3 aviões diferentes: dois de nós iríamos de manhã, um ao início da tarde e outro ao fim da tarde! Muito prático ...

Poupo-vos os pormenores das discussões e ameaças do Rui aos vários funcionários da US Airways que fomos encontrando pelo caminho. Tenho sempre muitas dúvidas que esta seja a melhor abordagem, mas os nervos estavam à flor da pele. E admiro-lhe a capacidade para, em situações de stress, tomar rapidamente decisões e resolver os problemas que vão surgindo. Eu fico meio abananada e lá vou acenando sempre que ele me pergunta o que é que eu acho disto ou daquilo!

Entretanto, como a ideia de ficar um dia inteiro em Philadelphia à espera nos pareceu logo um péssimo cenário, resolvemos alugar um carro e pusemo-nos a caminho. Foi uma viagem de 12 horas. Um pouco mais de 1.000 Km. Atravessamos a Pennsilvania, uma pontinha de West Virgínia, Ohio e Indiana. Apanhámos uma tempestade de neve nos Apalaches e ao longo da viagem assistimos à gradual descida da temperatura de 5º positivos para 24º negativos!

Chegámos a Indianápolis já era de noite. A cidade estava paralisada. As estradas estavam cheias de neve. A coisa era de tal maneira dramática que no dia anterior (Domingo) o Mayor da cidade tinha declarado que era ilegal conduzir, excepto em situações de comprovada emergência!  Quando chegámos apesar de já não estar em vigor tal proibição, não se via quase ninguém na rua.

Fomos directamente para o aeroporto onde tínhamos deixado o nosso carro. Enquanto eu e a Matilde ficámos no terminal das partidas à espera, o Rui e o Miguel foram entregar o carro alugado e buscar o nosso carro ao parque de estacionamento de longa duração, que estava coberto e rodeado de neve por todo o lado. Lá limparam o suficiente para o conseguirem tirar dali. Estavam -24º! Procurámos um hotel para passar a noite e lá fomos. 

Terça, dia 7 de Janeiro – Fomos acordados um pouco antes das 8 da manhã com um telefonema da US Airways para o telemóvel do Rui. Era uma mensagem gravada a informar que o nosso voo de Philadelphia para Indianápolis tinha sido cancelado! O Rui desatou-se a rir.

Por volta das 10 horas iniciámos a viagem de regresso a Urbana. Quase 3 horas por uma auto-estrada coberta de gelo e rodeada de neve.  Vimos dezenas (se não centenas) de carros e camiões na berma da estrada – tinham derrapado no gelo e ficaram enterrados na neve. Impressionante! Nunca tinha visto nada assim, e vivemos 5 anos em Minneapolis! A viagem foi toda feita a muito baixa velocidade, a escolher os bocadinhos da auto-estrada que pareciam menos gelados. Sempre rodeados por camiões, alguns demasiado destemidos para o meu gosto!

Chegámos a casa à hora do almoço. Cerca de 60 horas depois de termos saído do aeroporto de Lisboa! Chegou finalmente ao fim uma viagem que não correu bem. Mas podia ter sido pior! Não tivemos que passar horas no aeroporto a dormir sentados. Os miúdos foram impecáveis, apesar do cansaço e dos atrasos. Podemos contar com o Miguel para fazer os trabalhos árduos, sempre com boa vontade. As viagens de carro foram tranquilas, apesar das "condições atmosféricas adversas". E quando chegámos a casa e nos preparávamos para limpar a neve acumulada nas entradas da casa e da garagem, apareceu um sujeito com uma máquina limpa-neves a dizer que por $ 45  nos limpava a neve! Fechámos negócio por $ 40 e "em menos de um fósforo" estava tudo limpo!

2 comentários:

  1. Paula... acabei de ler, e depois li para o Jorge! Ficamos chocados!
    Mas depois de ter corrido tudo bem, de vocês chegarem em casa sãos e salvos, essa será uma história que você um dia ( daqui muito tempo talvez) certamente vão se lembrar e vão rir!
    Gostei muito de estar um bocadinho com vocês!
    Um beijo e voltámos a nossa amizade blogosférica!

    ResponderEliminar
  2. Também gostei muito do nosso pequeno encontro. Infelizmente, não deu para mais. Talvez para a próxima ... Um excelente 2014 para todos vós!

    ResponderEliminar