terça-feira, 29 de abril de 2014

O tempo dos dinossauros

Quero crer que a minha infância não foi assim há tanto tempo (wishful thinking, I know!). Mas quando descrevo pormenores de como, em criança, eu vivia e como passava o meu tempo, os meus filhos olham para mim como se eu fosse do tempo dos dinossauros. Na verdade, há uns anos atrás, a Matilde chegou a perguntar-me se eu vivi no tempo dos reis! E não é para menos, convenhamos. (Quase) tudo mudou! Tanto.

Quando lhes digo que, quando era miúda, a nossa televisão era a preto e branco, só tinha 2 canais e apenas emitia algumas horas por dia. Que não havia computadores, nem telemóveis, nem tablets, nem consolas. Que não havia facebook, nem twitter, nem instagram, eles olham para mim com um ar de comiseração, que me dá vontade de rir. Genuinamente, não conseguem imaginar como é que eu passava o meu tempo. Não entendem como é que eu não morri de tédio. 

Mas quando, depois, lhes digo que passava o tempo a brincar na rua. Que tinha uma casa com jardim, que tinha um baloiço, onde todos os miúdos da vizinhança se juntavam. Que quando tinha fome subia às árvores para apanhar tangerinas. Que andava de bicicleta no meio da rua, porque raramente passavam carros. Que ia a pé para a escola, com os meus amigos, sem a vigilância de qualquer adulto, os seus semblantes mudam. Noto um misto de admiração e inveja. Mas é uma visão fugaz, pois rapidamente se lembram de tudo o que eu não tinha e que para eles é um dado adquirido.

E agora, vou aproveitar o meu último dia de "férias"!

domingo, 27 de abril de 2014

Um novo ciclo está prestes a começar

Estou prestes a encerrar mais um ciclo e a começar outro! Tem sido assim a minha vida nos últimos tempos. Muitas mudanças! 

Desde que aqui cheguei, em Agosto de 2013, que tenho estado sem trabalhar. Sem trabalhar de forma remunerada, entenda-se, que não tenho estado propriamente de papo para o ar! Foram meses bons. Apesar da trabalheira que uma família de 5 implica (e que nestes meses recaiu quase exclusivamente sobre mim), consegui descansar, passear, escrever, acompanhar os miúdos, principalmente a Matilde, como nunca tinha conseguido fazer. E acho que foi especialmente bom, porque sabia que era uma situação transitória e que mais cedo ou mais tarde voltaria ao "mercado de trabalho". 

Chegou a hora! No final do ano passado fui a umas entrevistas na Universidade, que correram bem, e recebi uma proposta de trabalho, que aceitei. O visto já foi aprovado, pelo que vou começar dentro de dias. Foi bom perceber que a minha experiência profissional tem valor e que sou empregável! Confesso que estava com um pouco de receio, pois o Direito (em geral) e a advocacia (em especial) não são propriamente áreas muito dadas à globalização!  

Vou trabalhar no Gabinete que negoceia os contratos e bolsas de investigação de todos os docentes, departamentos e centros de investigação da Universidade. Vou manter-me, para já, dentro da minha "zona de conforto"! Com uma novidade. Vou pela primeira vez ser "trabalhadora por conta de outrém", com direito a tudo o que isso implica. O bom e o menos bom! Vou estar integrada numa estrutura hierárquica (ou seja, vou ter um chefe!), vou ter um horário de trabalho e um número certo de dias de férias por ano. Mas também vou ter um ordenado certo depositado na minha conta bancária todos os meses!

Neste momento, assaltam-me muitas dúvidas: o trabalho será interessante? Vou estar à altura deste desafio? O ambiente de trabalho vai ser agradável? Será que vou gostar? Para o bem ou para o mal, em breve saberei a resposta a todas estas questões! Até lá, preciso de gerir as expectativas e o nervoso miudinho que se instalaram de armas e bagagens na minha cabeça e na minha barriga, respectivamente! 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

A minha foto preferida deste dia em 1974

(Foto tirada pelo fotojornalista Alfredo Cunha)

 "Tá bom?", perguntou o capitão. "E continuou a revolução"



A história desta foto aqui!

http://www.publico.pt/multimedia/video/esta-foto-e-o-meu-che-guevara-20140324-195840


O mundo é mesmo uma grande aldeia!

Durante muitos anos o Rui partilhou o seu gabinete no Técnico com a Ana Cannas da Silva. De quem se tornou amigo. Em casa de quem estivemos mais do que uma vez em Lisboa. E que esteve em nossa casa. A Ana casou com um matemático, o Rahul, que conheceu quando estava a fazer o Doutoramento nos Estados Unidos (na Califórnia ou em Boston, não sei bem ...). Viveram em Princeton, em Lisboa e agora vivem na Suiça, em Zurich. Têm uma filha de 8 anos.

Ora, o Rahul, cujos pais emigraram para os Estados Unidos, oriundos da India, quando ele era muito pequenino, viveu toda a sua infância e adolescência (até ir para a Universidade) aqui em Urbana. Onde os pais eram professores na University of Illinois. A mãe ainda aqui vive. Não muito longe de nós. Conhece os donos da casa onde estamos a viver.

Aproveitando uns dias de férias na Páscoa, a Ana e a família vieram fazer uma visita à mãe/sogra/avó. E no Domingo passado vieram todos jantar a nossa casa. E eu olhei à minha volta e pensei: Qual a probabilidade de uma amiga nossa de Lisboa casar com um tipo que cresceu em Urbana, uma cidadezinha perdida no Midwest americano? Muito pequena, certamente. Mas aconteceu. O mundo é mesmo uma grande aldeia! 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Roger Ebert

Os meus amigos cinéfilos conhecem, com certeza, este nome. Aos outros apresento-o como sendo o mais conhecido crítico de cinema americano de todos os tempos. Porque é que falo dele aqui? Porque nasceu em Urbana e porque começa hoje o mais importante festival de cinema e um dos mais importantes eventos culturais aqui do burgo, apropriadamente chamado Roger Ebert's Film Festival (de nome completo 16th Annual Roger Ebert's Film Festival 2014).

Roger Ebert escreveu críticas de cinema no jornal Chicago Sun-Times durante 46 anos, desde 1967 até à sua morte em 2013, que lhe valeram um Pulitzer Prize em 1975 (o primeiro a ser atribuído a este tipo de jornalismo). E co-apresentou durante 20 anos (1986-2006) um famoso programa de televisão sobre cinema, chamado At the Movies, conhecido pela forma como os apresentadores concluíam a sua critica a determinado filme:  thumbs up ou thumbs down. Two thumbs up era a crítica que todos os filmes ansiavam!




Ao longo da sua vida viu e escreveu sobre milhares de filmes, desde os mais comerciais aos mais intelectuais, de uma forma apaixonada, conhecedora e muito acessível. Ao contrário de muitas críticas de cinema que li no Público ou no Expresso, que parecia que não eram escritas para serem lidas pelo comum dos mortais.

Façam a seguinte experiência: escolham um filme qualquer que tenham visto e vão ler o que Roger Ebert disse sobre ele (acabei de fazer isso em relação ao filme Lost in Translation, que faz parte da sua lista de great movies). Verão que tenho razão! Vão reconhecer as suas palavras e, talvez, identificar-se com as mesmas. A mim acontece-me isso frequentemente. Atenção que apesar de Roger Ebert ter morrido no ano passado (Abril de 2013), o seu site - www.rogerebert.com - continua activo, sendo actualmente as críticas escritas por diversas pessoas, em particular pela sua viúva, uma das principais colaboradoras do site. Têm por isso que escolher um filme mais antigo.

Mas, dizia eu, começa amanhã o "seu" festival de cinema em Urbana-Champaign, no Virginia Theater. O segundo sem a sua presença. Como sempre tem acontecido, conta com a presença de alguns notáveis, desta vez estarão cá, por exemplo, Oliver Stone e Spike Lee. No segundo dia será inaugurada uma estátua em sua honra, à porta do cinema onde decorre o festival. Em tamanho real e mostrando Roger Ebert sentado numa sala de cinema e com o seu famoso thumbs up! 







segunda-feira, 21 de abril de 2014

Uma escapadela a Chicago

No Sábado fomos passar o dia a Chicago, com o nosso amigo David que está quase a terminar a sua estadia de 2 semanas em Urbana-Champaign. Desta vez dividimo-nos. Eu e os miúdos fomos ao Aquário (Shedd Aquarium), que não conhecíamos. O Rui e o David foram ao Art Institute of Chicago, que no nosso entender é visita obrigatória para quem visita a cidade pela primeira vez.

Apesar das quase 2 horas (!) que estivemos na fila para comprar os bilhetes para visitar o Aquário, valeu a pena. É enorme, muito diversificado e, não obstante as milhares de pessoas que por lá andavam e que arrastavam atrás de si milhares de criancinhas e a respectiva parafernália, onde imperam os carrinhos de bebé, conseguimos ver tudo com (relativa) calma. O que mais gostei foi dos recifes de corais, verdadeiros oásis no fundo do mar!





Depois de terminada a nossa visita ao Aquário fizemos a pé o percurso até ao  Millennium Park, onde nos tinhamos combinado encontrar com o Rui e o David. Um percurso muito agradável ao longo do Lago Michigan, com muito sol e, à nossa frente, a melhor vista da downtown Chicago, que nunca me canso de admirar. As grandes metrópoles fascinam-me!






Antes de regressar a casa, demos uma voltinha na downtown e ainda consegui dar uma espreitadela à Zara (sim, o império do Srº Amâncio Ortega chegou a Chicago) e à Anthropologie, uma loja muito, muito gira, de roupa, sapatos, acessórios e artigos de decoração, um bocadinho cara para a minha carteira, mas onde, por vezes, se encontra uma ou outra coisa mais em conta. Se não, vale sempre a pena ver coisas giras.


quinta-feira, 17 de abril de 2014

De costas

Quem me conhece bem, sabe que tenho uma "pancada" por fotografias em que as pessoas estão de costas para a câmara. Adoro! Aqui ficam duas das minhas preferidas de entre as muitas que fui tirando ao longo dos anos:



 (Os meus filhotes na Serra da Estrela - 2008)


(A Matilde e a sua amiga Marta nos Açores - 2010)


terça-feira, 15 de abril de 2014

A Primavera chegou!

Em pouco mais de uma semana, os relvados começaram a ficar verdinhos, as árvores floridas e os esquilos correm de um lado para o outro, felizes da vida, como se não houvesse amanhã. Devem precisar de esticar as pernas depois de terem estado hibernados durante os longos meses de Inverno, muitos deles em ninhos que fazem nas árvores. 


(O nosso jardim)

À nossa volta, os vizinhos andam numa azáfama a trabalhar nos seus jardins. Assim que vieram os primeiros raios de sol, é vê-los de ancinho na mão a apanhar as folhas (que estavam escondidas debaixo da neve desde o Outono/Inverno), de tesouras da poda a aparar as sebes e, claro, a tratar do seus relvados, a joia da coroa. Felizmente, os nossos senhorios não são nada dados à jardinagem, pelo que têm um batalhão de gente a tratar do (agora) nosso jardim! Uma equipa para tratar da relva, outra para a cortar e outra, ainda, para tratar das árvores, sebes e demais plantas. Pela nossa parte, é aproveitar que para o ano não teremos estas mordomias! 

E no fim de semana passado fizemos os nosso primeiro barbecue, aproveitando a visita de 2 amigos matemáticos. O David, espanhol, que viveu em Lisboa durante um pouco mais de 4 anos, enquanto fazia um pós-Doutoramento no Técnico e que, agora, vive no Rio de Janeiro. E o Pedro, brasileiro, antigo estudante de Doutoramento do Rui em Lisboa, que agora está em Utrech, na Holanda.

A completar o grupo, vieram ainda o Ionut e a Dana, nossos amigos desde os primeiros dias em Urbana. São romenos, fizeram o Doutoramento em Utrech (Holanda) e ele está aqui a fazer um pós-Doutoramento, sendo um dos principais colaboradores do Rui. Deveriam ficar em Urbana 3 anos, mas infelizmente vão regressar à Holanda em Agosto, pois ele (um matemático brilhante, segundo consta) arranjou uma posição definitiva na Universidade de Nijmegen. Vamos sentir muito a falta deles! Têm sido nossos companheiros inseparáveis e a Dana tem sido uma espécie de tutora da Matilde. As 2 são grandes amigas.  



 (Da esquerda para a direita, o Pedro, o David e a Dana)

 (O Ionut e a Dana)

sábado, 12 de abril de 2014

Coisas de que tenho saudades # 5

De olhar para o mar. Quando está calmo e muito azul.

Gosto da sua imensidão, que nos ajuda sempre a pôr tudo em perspectiva e a relativizar os problemas do momento. Durante anos, estive tão perto dele e sinto que não o desfrutei o suficiente. Percebo isso, agora, que estou a milhares de quilómetros de distância. 


Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar

(Mar, Sophia de Mello Breyner Andresen)


Estes são dois dos mares mais bonitos que já vi:


 (Açores - 2010)

 (Rio de Janeiro - 2011)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Um bom creme de legumes

É fácil fazer creme de legumes, mas não é assim tão fácil fazer um bom creme de legumes. Para mim tem que ser saboroso, cremoso e ter uma certa consistência. Sopas ou cremes aguados não fazem o meu género.  

Quando os meus filhos eram muito pequeninos, o pediatra deles (o saudoso Drº Palminha) queria que eu lhes desse sempre sopa ao almoço e ao jantar. Sopa de legumes. Com muita água e uns legumes a boiar, dizia ele todas as vezes que íamos à consulta. Eu acenava sempre que sim com a cabeça, quão mãe obediente, e pensava para comigo: "Está-se mesmo a ver!"

Definitivamente, para mim sopa não é um prato de água com legumes a boiar! Tem que ser cremosa e ter uma certa consistência. Por isso, o segredo é a quantidade de água que se adiciona. Em excesso, fica muito liquida, mas se for pouca demais fica muito grossa. Quase que deixa de ser sopa. Fora isso, a minha técnica, normalmente, é atirar para dentro da panela todo o tipo de legumes que tenho no frigorífico! Mas da última vez, tentei ser um pouco mais selectiva.  Ficou óptima.


Creme de legumes:

1 batata doce
1 cebola
1 courgette
1 alho francês
1 dente de alho
água e sal q.b.
e depois de passada, uma golpada de azeite.



Bom Apetite!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Ainda os amigos

No último post falei dos amigos que, por razões várias, vamos perdendo ao longo da vida, fenómeno que sempre me fez um pouco de confusão. A facilidade com que, com o passar do tempo e as circusntâncias da vida, algumas pessoas passam de grandes amigos a quase estranhos, com quem às vezes, por acaso, nos cruzamos na rua e apenas conseguimos ter uma breve conversa de circunstância. 

Mas depois há os amigos de uma vida. Aqueles que fazem parte da nossa existência há tanto tempo que quase não nos lembramos da nossa vida sem eles. Aqueles que chegaram e não mais partiram. Que estiveram presentes em quase todos os momentos importantes, os bons e os menos bons. Aqueles com quem podemos contar no matter what. Eu tenho a imensa sorte de ter destes amigos!

Os mais antigos são os de Coimbra, cujo núcleo duro remonta ao meu 12º ano e aos anos da Faculdade. Foram anos de convívio intenso, quase diário. Partilhamos tantas, tantas histórias que dava para fazer um livro! Recordamo-las vezes sem conta, para desespero de quem não as viveu na primeira pessoa, mas já as conhece de cor e salteado! Hoje o grupo é bem maior, com outros amigos que entretanto chegaram e muitos filhos, que são grandes amigos entre si! 

Como escreveu não há muito tempo atrás a minha amiga Cristina (referindo-se apenas às mulheres do grupo, mas que eu aqui, e com a sua autorização, estendo a todos): "do alto do nosso quase meio século de vida, a maior parte foi partilhada convosco. Partilhei convosco o que de melhor e pior se passou na minha vida. E sem prejuízo das voltas da vida, do longe e da distância, sempre estivemos juntas. Se fôssemos irmãs, duvido que tivéssemos ligação mais forte. E isso é de valor inestimável! E olhar para os nossos filhos e ver que este legado é uma das melhores heranças que já em vida lhes legamos, não tem preço!"

Tantos anos depois, e apesar da distância a que alguns estão, temos conseguido a proeza de manter e alimentar esta amizade, com pequenos gestos, muitos "eventos", algumas viagens, que isto da amizade dá "trabalho". É preciso descobri-la, construí-la e alimentá-la. É preciso estar atento e disponível. Pegar no telefone ou bater à porta. É preciso ir ao encontro e, às vezes, perceber que é preciso dar tempo e espaço. É preciso saber ouvir e, às vezes, perceber que é melhor estar calado. E é preciso um bocadinho de sorte, para que tudo se encaixe e funcione!

Ao longo da vida, fui fazendo outros bons amigos. Em Minneapolis, em Lisboa e, agora, em Urbana. Porque para mim não faz sentido que seja de outra maneira. Da minha parte nunca ouvirão dizer: "tenho muitos amigos, não preciso de mais".



(Coimbra - 2006)




(Grândola - 2008)

(Açores - 2010)

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Amigos

Como já foi notícia por aqui, no Spring Break fomos a Austin, Texas visitar um amigo (e a sua família) dos nossos tempos de Minneapolis, que já não viamos há muitos anos.  E voltei a pensar como, ao longo da vida, vamos conhecendo pessoas, que durante uns tempos fazem parte integrante da nossa vida e depois, por circunstâncias várias, deixam de fazer. Num momento são uma presença assídua e importante, pessoas com quem partilhamos momentos, pensamentos, intimidades e parvoíces, e de repente já não estão ali.  E muitos não voltam nunca.

A mim isto já me aconteceu algumas vezes. A maior parte das minhas amigas de infância e adolescência, incluindo as minhas amigas do liceu, entre elas a minha melhor amiga da altura, com quem eu estava praticamente todos os dias e com quem passava horas ao telefone (não percebo como é que tínhamos tanto para falar ...) são hoje pessoas com quem não mantenho qualquer contacto. Algumas delas, não faço mesmo a mínima ideia onde estão e o que fazem. 

O mesmo aconteceu com os nossos amigos de Minneapolis. Durante 5 anos (uns um pouco mais, outros um pouco menos) foram uma presença quase constante na nossa vida. Muitos deles (quase todos) eram também estudantes estrangeiros, o que nos aproximava e tornava cúmplices na, às vezes, dificil tarefa de viver longe de casa, num país diferente. Ajudavamo-nos mutuamente e era muito reconfortante estar com aquelas pessoas que estavam na mesma situação. Havia uma compreensão mútua, que dispensava grandes explicações. Durante 5 anos estas pessoas foram a nossa família!

Depois de regressarmos a Portugal, perdemos o contacto com quase todos. Naquela altura, por muito boa vontade que se tivesse, era difícil manter o contacto com pessoas que estavam fisicamente longe. Não havia redes sociais, nem e-mail, nem blogs, ferramentas que actualmente nos permitem estar em quase permanente contacto com quem queremos, de forma quase imediata.

Curiosamente, nos últimos anos re-encontrámos alguns desses amigos de Minneapolis, e apesar do muito tempo que passou e das tantas coisas que aconteceram entretanto, foi muito bom e muito fácil estarmos juntos. A conversa fluiu sem qualquer problema. Recordámos os tempos que passámos juntos e partilhámos pormenores da nossa vida pós-Minneapolis. De uma forma estranhamente normal. Como se o tempo não tivesse passado. Há cumplicidades tão fortes que nunca se quebram. Outras nem por isso. É a vida.

 (Rui com o Geraldo e a Tânia no Brasil em 2011)

 (Rui com o Hector em Austin em 2014)


Nota: Eu sou, quase sempre, a fotógrafa de serviço nesta família, o que me dá muito prazer. Mas, de vez em quando, tenho que começar a delegar estas funções, senão nunca apareço nas fotografias!

sábado, 5 de abril de 2014

Austin, Texas

E ao 3º dia lá chegámos a Austin, a mais interessante de todas as cidades que visitámos nestas nossas mini-férias da Primavera. Gostei muito! Austin é uma cidade bonita, cheia de vida e de música. Conhecida pelos seus festivais e pela sua irreverência no panorama predominantemente conservador do Estado do Texas! O seu mote é Keep Austin weird!

Visitámos alguns museus e o Capitólio (Austin é a capital do Estado), passeámos pela downtonw, andámos de canoa, comemos o famoso Texan Barbecue e tivemos a experiência inesquecível de Austin by night! Aqui tivemos o privilégio de ser guiados por um amigo que vive na cidade há 6 anos, o que fez toda a diferença.


Conhecemos o Hector logo que chegámos a Minneapolis, em 1989, e não foi preciso muito para se tornar num dos nossos grandes amigos. Ele e o Rui começaram o programa de Doutoramento na mesma altura e foram sempre colegas. Durante 5 anos foi uma presença constante na nossa vida. Depois, nós regressámos a Portugal e durante muitos anos pouco contacto mantivemos. Foi muito bom estar com ele e com a mulher, a Mónica, que também conhecemos em Minneapolis. Entre recordar os velhos tempos e preencher os espaços em branco dos últimos 19 anos, foram 3 dias de muita conversa. Como eu gosto!

Como já disse, gostei muito da cidade. Muito luminosa e colorida. Muitas referências musicais por todo o lado. Percorremos a pé as principais ruas da downtown, aproveitando o Sol que nos acompanhou quase sempre.


 




 
Num dos dias, fomos almoçar num dos restaurantes da downtown, que servem o famoso Texan barbecue. Muito bom! No fim, veio a conta, com a gorjeta incluída - 20%!





Visitámos o Capitólio e vários museus: The Blanton Museum of Art, The Texas State History Museum e o The Harry Ransom Center.

O Capitólio é o maior dos Estados Unidos (Texas size, portanto!) e vale a pena fazer-lhe uma breve visita. Nós tivemos a sorte de nos infiltrar numa visita guiada com um guia muito curtido!




O Museu sobre a história do Texas é muito interessante. O Texas tem uma história um pouco diferente dos restantes Estados, pois à equação onde normalmente figuram os índios nativos e as várias vagas de europeus e africanos que foram chegando, há que acrescentar os Mexicanos que andaram para cima e para baixo num jogo de forças com os "americanos", até que finalmente as fronteiras entre os 2 Estados foram definitivamente estabelecidas. Nos entretantos, o Texas até foi um Estado independente durante cerca de uma década! 




Ao The Harry Ransom Center fizemos uma visita cirúrgica, para ver The Gutenberg Bible, o primeiro livro a ser impresso por Gutenberg no Século XV, dos quais só existem 48 exemplares completos no mundo. Nos Estados Unidos existem 5 exemplares, sendo que um deles é este que vimos em Austin. Vimos também aquela que foi a primeira fotografia a ser tirada em França em 1826 ou 1827. Duas preciosidades que vale a pena ver. 





Depois de tanta cultura, precisávamos de apanhar um pouco de ar, pelo que fomos até à beira rio, onde o Rui, a Matilde e o Hector deram um pequeno passeio de canoa. O Mafalda quis ficar num Starbucks da downtown, o Miguel preferiu ficar a descansar na margem do rio e eu fiz-lhe companhia! 





Falta só falar da nossa expediência nocturna em Austin! Num dos dias deixámos os miúdos em casa e saímos os 4. Fomos ver o espectáculo Esther Follies na famosa 6th Street, a rua onde à noite tudo acontece! Uma espécie de revista à americana, com muita sátira política, música e até um espectáculo de magia, num ambiente muito intimista. A seguir fomos jantar a um restaurante francês chamado Chez Nous, onde posso muito bem ter comido a melhor refeição desde que aqui aterrei no dia 1 de Agosto de 2013! Optei por um prato de salmão, acompanhado por batatinhas e uma variedade de legumes. Tudo muito bem confeccionado, sem qualquer sofisticação, a provar que muitas vezes quanto menos, melhor! Para terminar a noite, atrevêmo-nos a entrar num dos inúmeros bares com música  ao vivo, onde bebemos umas cervejas e constatámos mais uma vez que já demos para certas coisas ... A música, um Rock demasiado pesado para o meu gosto, estava tão alta que era impossível conversar, coisa que me irrita por demais. 

E é isto. Foi assim a nossa viagem. O regresso a Urbana demorou 2 dias e foi muito cansativo. Mas quem disse que as férias são para descansar estava completamente enganado! 

Nota: Aos que acompanharam estes meus relatos até ao fim, peço desculpa pela sua extensão, mas a verdade é que este blog está também a funcionar como um repositório de vivências para minha memória futura, pois os que me conhecem sabem bem que a minha memória tem tamanho micro!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Dallas, Texas

No segundo dia, saímos de Memphis a seguir ao almoço em direcção a Dallas, no Texas. Sete horas de viagem. O Texas é um dos maiores e mais populosos Estados Norte-Americanos, cerca de 7 vezes maior do que Portugal. Tem grandes áreas metropolitanas, sendo Dallas a terceira maior, a seguir a Houston e San Antonio.

Se em Memphis é obrigatório visitar a casa de Elvis Presley, em Dallas o must see é o local onde o Presidente Kennedy foi assassinado, assim como o Memorial e o Museu que existe no edifício (e andar) de onde o atirador, Lee Harvey Oswald, disparou os tiros fatais.

Mas antes de rumarmos ao local do crime, ainda fomos visitar o Nasher Sculpture Center, um centro de arte cuja colecção inclui obras de vários grandes artistas do Século XX, incluindo Rodin, Giacometti, Matisse, Miro e Picasso. Os miúdos, principalmente o Miguel e a Matilde, resistem sempre a idas a museus - mais um? perguntam sempre com aquele ar de enfado - mas se a colecção for diversificada, se não for exclusivamente pintura, acabam por passar um bom bocado e por aprender a gostar um bocadinho mais de arte!









E no Nasher Sculpture Center vivemos o nosso momento de suspense! Estavamos nós nos jardins do museu, onde muitas das esculturas estão, quando uma funcionária se aproximou de nós pedindo que fossemos para dentro do edifício porque havia uma "situation" a poucas milhas de distância e, por precaução, o museu queria fechar as suas portas. Lá fomos e pouco depois soubemos que tinham sido disparados uns tiros numa zona não muito distante e, até a situação estar sob controlo da polícia, aconselharam-nos a ficar dentro do museu. Foi o que fizemos e aos poucos íamos sabendo mais pormenores. Tratou-se de um tipo que se barricou no seu apartamento e disparou alguns tiros para a rua. Até a polícia conseguir controlar a situação (o que fez usando gás lacrimogéneo) e prender o tipo, as ruas próximas do local em causa foram fechadas ao público, assim como fecharam vários edifícios públicos e escolas. Actualmente, é assim, a sociedade americana está tão traumatizada com os tiroteios que há mais pequena coisa entram em lock down. Ninguém entra e ninguém sai, até ordens em contrário. 

Dali fomos, então, para a Deley Plaza, local onde o JFK foi assassinado. É um daqueles locais que transpiram solenidade, onde reina sempre um certo silêncio. Onde eu fico sempre com um bocadinho de pele de galinha! Não muito longe do local onde ocorreu o assassinato foi construído um Memorial. Muito simples, simples demais. Não é particularmente interessante. Muito mais interessante é o Museu que fizeram no andar do edifício em que o atirador disparou os tiros que atingiram e mataram o presidente. Chama-se apropriadamente The Sixth Floor Museum e nele podemos reviver muito mais do que o assassinato e os eventos que antecederam e que se seguiram a esse momento específico. Através de uma grande diversidade de materiais e partindo sempre da personalidade e actuação de JFK, podemos rever a história dos anos 60 na América. A exposição está muito bem feita e é muito interessante. Infelizmente não deixam tirar fotografias ...





( Edifício de onde foram disparados os tiros  - janela do 6º piso (penúltima a contar de cima), a primeira do lado direito)

De seguira ainda demos uma pequena volta a pé por Dallas, após o que partimos em direcção a Austin. Mais 3 horas de carro!